fevereiro 28, 2010
A Educação Sentimental
«Quando a carruagem parava, fazia-se um silêncio
universal; apenas se ouvia o ofegar do cavalo nos varais,
com um grito de pássaro muito fraco, repetido.»
Gustave Flaubert,
A Educação Sentimental
(«L'Éducation Sentimentale», 1869)
Trad. João Costa, Relógio d'Água,
Lisboa, 2008, p.261
fevereiro 27, 2010
A Educação Sentimental
Lamartine devant l’Hôtel de Ville de Paris, le 25 février 1848, refuse le drapeau rouge
«O espectáculo mais frequente era o das delegações
de fosse do que fosse, que iam reclamar qualquer
coisa ao Hôtel de Ville, porque cada ofício,
cada indústria esperava do Governo o fim
radical da sua miséria. Alguns, é certo,
aproximavam-se dele para o aconselhar,
ou para o felicitar, ou muito simples-
mente para lhe fazer uma visitinha
e ver como funcionava a máquina.»
Gustave Flaubert, A Educação Sentimental
(«L'Éducation Sentimentale», 1869)
Trad. João Costa, Relógio d'Água,
Lisboa, 2008, p.238
fevereiro 26, 2010
A Educação Sentimental
«Nunca tinha visto a alta sociedade
senão através da febre da sua inveja,
imaginava-a como se fosse uma criação
artificial, que funcionava em virtude
de leis matemáticas. Um convite para
jantar, o encontro com um homem bem
colocado, o sorriso de uma linda
mulher podiam, através de uma
série de acções, umas deduzidas
das outras, levá-lo a obter
resultados fabulosos.»
Gustave Flaubert, A Educação Sentimental
(«L'Éducation Sentimentale», 1869)
Trad. João Costa, Relógio d'Água,
Lisboa, 2008, p.70
fevereiro 25, 2010
A Educação Sentimental
fevereiro 24, 2010
A Educação Sentimental
«Eu gostava de tribunais marciais
para amordaçar os jornalistas!
À mínima insolência, levados
a conselho de guerra!
E toca a andar!
- Oh! Tome cautela [ ]
- não ataque as nossas
preciosas conquistas [ ].
Respeitemos as nossas liberdades.
Era necessário sobretudo descentralizar,
repartir o excedente das cidades pelos campos
[ ] Todo o mal estava naquele desejo moderno
de as pessoas se quererem elevar acima
da sua classe, terem luxo.
- Contudo - objectou um industrial -
o luxo favorece o comércio.»
:)
Gustave Flaubert, A Educação Sentimental
(«L'Éducation Sentimentale», 1869)
Trad. João Costa, Relógio d'Água,
Lisboa, 2008, p.132
fevereiro 23, 2010
A Educação Sentimental
«Como os negócios estavam parados, a inquietação
e a basbaquice traziam toda a gente para a rua.
O desmazelo dos fatos atenuava a diferença
das classes sociais, o ódio ocultava-se,
as esperanças exibiam-se, a multidão
andava com ar tranquilo.
O orgulho de um direito conquistado
resplandecia nos rostos. Sentia-se
uma alegria de Carnaval, ambiente
de acampamento; nada foi tão
divertido como o aspecto
de Paris, naqueles
primeiros dias.»
Gustave Flaubert, A Educação Sentimental
(«L'Éducation Sentimentale», 1869)
Trad. João Costa, Relógio d'Água,
Lisboa, 2008, p.238
fevereiro 22, 2010
A Educação Sentimental
«E, depois disto tudo, ainda havia o Socialismo!
Embora tais teorias, tão recentes como o jogo
da glória, tivessem sido nos últimos quarenta
anos suficientemente combatidas para encher
bibliotecas, assustaram os burgueses, como
uma saraivada de aeróltios; sentiu-se indignação,
em virtude do ódio que provoca o advento
de qualquer ideia só porque é uma ideia,
execração de onde retira mais tarde a glória,
e que faz com que os seus inimigos
fiquem sempre debaixo dela,
por mais medíocre que
ela possa ser.»
Gustave Flaubert,
A Educação Sentimental
(«L'Éducation Sentimentale», 1869)
Trad. João Costa, Relógio d'Água,
Lisboa, 2008, p. 239
fevereiro 21, 2010
A Educação Sentimental
«… e, em toda a parte, os inquilinos diziam mal dos proprietários,
a bata atirava-se à casaca e os ricos conspiravam contra os pobres.
Alguns exigiam indemnizações como antigos mártires da polícia,
outros imploravam dinheiro para lançarem invenções, projectos
de bazares cantonais, sistemas de felicidade pública; [ ] Por vezes
também, aparecia um cavalheiro, um aristocrata, com modos
humildes, dizendo coisas plebeias, e que não tinha lavado
as mãos para as fazer parecer calejadas. Um patriota
reconhecia-o, os mais virtuosos insultavam-no; e
ele saia com a alma cheia de raiva.»
Gustave Flaubert, A Educação Sentimental
(«L'Éducation Sentimentale», 1869)
Trad. João Costa, Relógio d'Água,
Lisboa, 2008, p. 243
fevereiro 20, 2010
A Educação Sentimental
fevereiro 19, 2010
A Educação Sentimental
fevereiro 18, 2010
A Educação Sentimental
«Sentir-se agoniado com a vulgaridade dos rostos,
as tolices das conversas, a satisfação imbecil que
transpirava daquelas testas cheias de suor!
No entanto, a consciência de valer mais
do que estes homens compensava-o
do cansaço de os observar.»
Gustave Flaubert, A Educação Sentimental
(«L'Éducation Sentimentale», 1869)
Trad. João Costa, Relógio d'Água,
Lisboa, 2008, p.59
fevereiro 17, 2010
A Educação Sentimental
«A queda da monarquia tinha sido tão rápida que,
passada a primeira estupefacção,
houve entre os burgueses
como que um espanto
por ainda estarem vivos.
A execução sumária de alguns ladrões,
fuzilados sem julgamento,
pareceu uma coisa muito justa.»
Gustave Flaubert, A Educação Sentimental
(«L'Éducation Sentimentale», 1869)
Trad. João Costa, Relógio d'Água,
Lisboa, 2008, p.237
fevereiro 16, 2010
A Educação Sentimental
fevereiro 15, 2010
«Compreendi então o que significava toda a beleza dos habitantes
do Mundo Superior. Muito agradável era o seu dia, tão agradável
quanto o dia do gado no pasto. E como o gado, não conheciam
inimigos e não se precaviam contra as necessidades. E o fim
era o mesmo. [ ] Sofri só de pensar como fora fugaz o sonho
do intelectual. [ ] Existe uma lei da Natureza que ignoramos,
que a versatilidade intelectual é a compensação pela mudança,
o perigo, os problemas. Um animal em perfeita harmonia com o
seu meio envolvente é um mecanismo perfeito. A Natureza nunca
apela à inteligência senão quando o hábito e o instinto se
tornam irrelevantes. Não existe inteligência onde não existir
mudança nem necessidade de mudança.»
H.G. Wells, A Máquina do Tempo («The Time Machine», 1865),
Trad. Maria Georgina Segurado, Public. Europa-América,
Lisboa, 1992, p. 81-2
Trad. Maria Georgina Segurado, Public. Europa-América,
Lisboa, 1992, p. 81-2
fevereiro 14, 2010
Lembrando a crítica demolidora
do jornalismo manipulatório:
e seus deploráveis discípulos
«Num tom acusatório e à revelia da ética da cidadania
que nos dita a consideração e a boa-fé perante os entrevistados,
ambas [Judite e Clara de Sousa, da RTP e da SIC] adoptaram
como forma de entrevistar o Presidente do Supremo Tribunal
de Justiça, o recurso a perguntas insistentes e manipulatórias
que visavam a obtenção de respostas que, para si-próprias,
pareciam pré-definidas como ideais, no sentido
de virem a corroborar afirmações lesivas da Justiça
e da lisura da actuação de Noronha do Nascimento.
Os tele-espectadores puderam assim assistir a um lamentável
episódio da comunicação social portuguesa muito mais evidente
do que a alegada falta de liberdade de imprensa...»
in blog A Nossa Candeia
(destaque meu)
do jornalismo manipulatório:
e seus deploráveis discípulos
«Num tom acusatório e à revelia da ética da cidadania
que nos dita a consideração e a boa-fé perante os entrevistados,
ambas [Judite e Clara de Sousa, da RTP e da SIC] adoptaram
como forma de entrevistar o Presidente do Supremo Tribunal
de Justiça, o recurso a perguntas insistentes e manipulatórias
que visavam a obtenção de respostas que, para si-próprias,
pareciam pré-definidas como ideais, no sentido
de virem a corroborar afirmações lesivas da Justiça
e da lisura da actuação de Noronha do Nascimento.
Os tele-espectadores puderam assim assistir a um lamentável
episódio da comunicação social portuguesa muito mais evidente
do que a alegada falta de liberdade de imprensa...»
in blog A Nossa Candeia
(destaque meu)
imagem in Marcas d´Água
É PARA LÁ QUE EU VOU
Para além da orelha existe um som,
à extremidade do olhar um aspecto,
às pontas dos dedos um objecto
— é para lá que eu vou.
À ponta do lápis o traço.
Onde expira um pensamento está uma ideia,
ao derradeiro hálito de alegria uma outra alegria,
à ponta da espada a magia
— é para lá que eu vou.
Clarice Lispector, Onde Estiveste de Noite?,
Relógio d´Água, Lisboa, s/d, p. 71
fevereiro 11, 2010
Alonso Quijano
para o José Bento e o Miguel Serras Pereira
Viveste um sonho, Alonso. A tua vida
ainda hoje transcende a ilusória
verdade que há num corpo, a sua história
tão pobre e desde sempre repetida.
Viveste, Alonso, fora da medida
que sempre limitou a transitória
razão dos seres humanos na inglória
febre de mil desejos sem saída.
Amaste para sempre a tua ideia
num rosto a que chamaste Dulcineia
desde o primeiro dia, cavaleiro.
Por isso estás aqui e em toda a parte
enquanto houver alguém a imaginar-te
num sonho que extravasa o mundo inteiro.
Fernando Pinto do Amaral
fevereiro 10, 2010
Giannini, U., Woman with flower
Blog Branco no Branco
A alegria das coisas não é a posse
mas a semelhança delas com os nossos dedos.
Nem as coisas têm forma própria
mas a que lhes dá a mão, usando-as
(fiama hasse pais brandão)
fevereiro 07, 2010
Imagem: Stuelpnagel, D. s/ título (2002)
Vídeo: Ella Fitzgerald, What is this thing called love
Origem: Blog Branco no Branco
Se eu não morresse, nunca! E eternamente
Buscasse e conseguisse a perfeição das cousas!
Esqueço-me a prever castíssimas esposas,
Que aninhem em mansões de vidro transparente!
Ó nossos filhos! Que de sonhos ágeis,
Pousando, vos trarão a nitidez às vidas!
Cesário Verde
fevereiro 06, 2010
os mistérios de eleusis - posfácio iv
fevereiro 05, 2010
os mistérios de eleusis - posfácio iii
«… não é o mesmo feixe de trigo que nasce da semente.
É outro, um novo feixe de trigo, o que indica
que a nossa imortalidade está realmente
entre as nossas pernas.
A nossa semente faz realmente um novo homem,
mas ele não é nós. O filho não é o pai.
O pai é enterrado e esse é o seu fim.
O filho é um homem diferente que um dia
fará outro homem e assim sucessivamente,
talvez para sempre; porém,
a consciência individual
termina.»
Gore Vidal, Juliano (1962), trad.
Carlos Leite, P. Dom Quixote,
Lisboa, 1990, p.152
fevereiro 04, 2010
os mistérios de eleusis - posfácio ii
«Alguns perguntaram: criámos estes deuses ou foram eles que nos criaram?
É uma discussão muito antiga. Somos um sonho da divindade
ou cada um de nós um sonhador separado,
que evoca a sua própria realidade?
Embora não haja uma certeza, todos os nossos sentidos nos dizem
que existe uma única criação e que estamos contidos nela para sempre.
Ora, os cristãos impõem um mito final e rígido
àquilo que sabemos ser variado e estranho.
Nem sequer um mito, pois o Nazareno
existiu em carne e osso.
Ao passo que os deuses que adoramos
nunca foram homens; são, em vez disso,
qualidades e poderes, que se transformaram
em poesia para nossa edificação.
Com o culto do judeu morto, a poesia acabou.
Os cristãos desejam substituir as nossas belas lendas
pelo cadastro policial de um rabi reformista.
Com esse material impossível esperam fazer
uma síntese definitiva de todas as religiões conhecidas.
Agora apropriam-se dos nossos dias festivos.
Transformam divindades locais em santos.
Tiram bocados aos nossos ritos de mistério,
Especialmente aos de Mitra.
Os sacerdotes de Mitra são chamados «pais», «padres».
Então os cristãos chamam aos seus sacerdotes padres.
Imitam inclusivamente a tonsura, esperando impressionar
os conversos com os adornos dum culto antigo.
Agora começam a chamar ao nazareno «salvador» e «aquele que cura».
Porquê? Porque um dos nossos deuses mais amados é Asclépio,
A quem chamamos «salvador» e «aquele que cura».»
Gore Vidal, Juliano (1962),
P. Dom Quixote, Lisboa, 1990, pp. 82-3
É uma discussão muito antiga. Somos um sonho da divindade
ou cada um de nós um sonhador separado,
que evoca a sua própria realidade?
Embora não haja uma certeza, todos os nossos sentidos nos dizem
que existe uma única criação e que estamos contidos nela para sempre.
Ora, os cristãos impõem um mito final e rígido
àquilo que sabemos ser variado e estranho.
Nem sequer um mito, pois o Nazareno
existiu em carne e osso.
Ao passo que os deuses que adoramos
nunca foram homens; são, em vez disso,
qualidades e poderes, que se transformaram
em poesia para nossa edificação.
Com o culto do judeu morto, a poesia acabou.
Os cristãos desejam substituir as nossas belas lendas
pelo cadastro policial de um rabi reformista.
Com esse material impossível esperam fazer
uma síntese definitiva de todas as religiões conhecidas.
Agora apropriam-se dos nossos dias festivos.
Transformam divindades locais em santos.
Tiram bocados aos nossos ritos de mistério,
Especialmente aos de Mitra.
Os sacerdotes de Mitra são chamados «pais», «padres».
Então os cristãos chamam aos seus sacerdotes padres.
Imitam inclusivamente a tonsura, esperando impressionar
os conversos com os adornos dum culto antigo.
Agora começam a chamar ao nazareno «salvador» e «aquele que cura».
Porquê? Porque um dos nossos deuses mais amados é Asclépio,
A quem chamamos «salvador» e «aquele que cura».»
Gore Vidal, Juliano (1962),
P. Dom Quixote, Lisboa, 1990, pp. 82-3
fevereiro 03, 2010
os mistérios de eleusis - posfácio i
A seita dos cristãos, como muitas outras do médio oriente, espalhou-se por Roma,
capital do império, e granjeou seguidores pelo zelo dos seus prosélitos.
Perseguida, erradicada para o submundo das catacumbas,
conseguiu no entanto alguns adeptos nas legiões
de Roma. Só no iv século, Constantino
oficializou a religião cristã.
Os bispos rapidamente se instalaram nas cadeias
de comando do Império, e o Solstício de Inverno,
uma das principais festas celebradas
no mundo antigo,
logo se transmutou na festa da Natividade
do profeta Jesus Cristo,
aquele que veio estender a religião monoteísta
do "povo eleito" a todo o Império Romano!
capital do império, e granjeou seguidores pelo zelo dos seus prosélitos.
Perseguida, erradicada para o submundo das catacumbas,
conseguiu no entanto alguns adeptos nas legiões
de Roma. Só no iv século, Constantino
oficializou a religião cristã.
Os bispos rapidamente se instalaram nas cadeias
de comando do Império, e o Solstício de Inverno,
uma das principais festas celebradas
no mundo antigo,
logo se transmutou na festa da Natividade
do profeta Jesus Cristo,
aquele que veio estender a religião monoteísta
do "povo eleito" a todo o Império Romano!