janeiro 30, 2013


«Igualmente interessados [os filósofos racionalistas] em respeitar a razão e em basear nela a autoridade da fé, do mesmo modo que a ordem política, os pensadores deste período [século XVII] atingem, por isso mesmo, o mais alto grau de sinceridade religiosa e de profundeza moral.

A riqueza de inteligência dos grandes filósofos modernos [Descartes, Espinosa, Leibniz], autênticos clássicos da meditação metafísica, é o mais belo fruto desse esforço renovado, dessa visão penetrante que a sinceridade, o rigor e a solidez moral do sábio proporcionaram à consciência ocidental.»

Pierre Ducassé (1905-1983), As Grandes Correntes da Filosofia, («Les Grandes Philosophies», 1972)Trad. Álvaro Salema, Lisboa, Public. Europa-América, Colecção Saber nº 10, n.31, p.60

janeiro 28, 2013


«O intelecto desenvolve-se ao mesmo tempo e no mesmo sentido que a actividade motriz, em sentido inverso da sensibilidade, e da passividade em geral.

A passividade não é, porém, inteiramente nula. O intelecto, distinto da intuição simples, não é a actividade pura.

Toda a percepção distinta e toda a ideia implicam, como vimos, uma diversidade que nos representamos sob a forma de uma extensão e de que percorremos os intervalos pelo pensamento.

Toda a operação do intelecto implica a imaginação de um movimento. A este carácter deve dar-se justamente a denominação de razão discursiva

Félix Ravaisson, Do Hábito (1838),
Trad. e Notas de Álvaro Ribeiro,
Lisboa, Editorial Inquérito, p.66


janeiro 26, 2013


«"Que uns vivam livres na casa dos outros".

"Assim porquê? Para me acontecer, a mim, que a comprei, que a construí, que dela cuidei e que com ela tanto dispendi, que venhas agora tu, contra a minha vontade, usufruir aquilo que é meu?

Afinal, que é isto de tirar a uns os seus bens e dar a outros aquilo que é de outrém?

Quanto à listas de dívidas, que podem elas significar senão o facto de comprares tu uma quinta com o meu dinheiro, ficando tu a possuir a quinta enquanto eu fico sem o dinheiro?”


Por essa razão, para que não se verifique qualquer situação de dívida, que possa pôr em perigo a segurança da república, é necessário que se tomem certas medidas.

Tal circunstância pode ser evitada de várias maneiras, mas, de modo nenhum, caso venha a suceder que os ricos possam vir a perder tudo aquilo que possuem e aqueles, que devem, venham a lucrar com aquilo que não lhes pertence.

Com efeito, nada mais pode contribuir para que a república se mantenha solidamente do que a boa-fé, a qual não pode existir se não houver a necessidade de serem as dívidas liquidadas.»

Cícero, Dos Deveres (De Officiis),
Trad., Introd., Notas, Índice e
Glossário de Carlos Humberto Gomes,
Lisboa, Edições 70, 2000, Livro II, 83-84

janeiro 13, 2013

                     Epaminondas

«Tal expõe-se ao perigo com a esperança num grande proveito; tal outro com medo de ser censurado: não são pois corajosos. Tirai ao primeiro a ambição, ao segundo a vergonha e eles serão talvez os mais cobardes dos homens.

Não deis o nome de corajoso àquele que procedeu por vingança: é um javardo que se atira contra o ferro que o feriu. Não o deis também àqueles que são agitados por paixões desordenadas e cuja coragem se aviva ou se abranda com elas.

Qual é, pois, o homem corajoso? Aquele que, movido por motivos honestos e guiado pela sua razão, conhece o perigo, receia-o, e embate contra ele.»

J.J. Barthélemy, A educação ateniense (1788),
Lisboa, Editorial Inquérito, s/d, pp. 46-47

janeiro 12, 2013

«Les fêtes du Nouvel An juif, célébrées à grand renfort de trompettes et de cornes de bélier, donnaient lieu chaque année à des rixes sanglantes; nos autorités interdirent la lecture publique d’un certain récit légendaire, consacré aux exploits d’une heroïne juive qui serait devenue sous un nom d’emprunt la concubine d’un roi de Perse, et aurait fait massacrer sauvagement les ennemies du peuple méprisé et persécuté dont elle sortait.»

Marguerite Yourcenat, Mémoires d’Hadrien,
Paris, Gallimard, 2001, pp.252



janeiro 10, 2013


«Mestres especiais encarregavam-se de ensinar essas disciplinas [lógica, retórica, etc.], às vezes por alto preço.

Assim, diz-se que um ateniense pediu a Aristipo que lhe completasse a educação do filho. Aristipo acedeu, mediante mil dracmas.

— Por esse dinheiro — respondeu o pai —, posso obter um escravo.
— É verdade; e até terá dois — respondeu o filósofo:— primeiro, seu filho; segundo, o escravo a quem o confia.»

J.J. Barthélemy, A educação ateniense (1788),
Lisboa, Editorial Inquérito, s/d, p.35

janeiro 08, 2013


«Natura deficit, fortuna mutatur, deus omnia cernit. La nature nous trahit, la fortune change, un dieu regarde d’en haut toutes les choses. [ ] je finissais pour trouver naturel, sinon juste, que nous dussions périr. Nos lettres s’épuissent; nos arts s’endorment; [ ] Nos sciences piétinent depuis Aristote et Archimède; [ ]. L’adoucissement des moeurs, l’avancement des idées au cours du dernier siècle sont l’oeuvre d’une infime minorité de bons esprits; la masse demeure ignare, féroce quand elle le peut, en tout cas égoïste et bornée, et il y a fort à parier qu’elle restera toujours telle.»

Marguerite Yourcenat, Mémoires d’Hadrien,
Paris, Gallimard, 2001, pp.262-3

janeiro 06, 2013


«Lísis perguntou um dia como se julga do mérito de um livro. Aristóteles, que estava presente, respondeu:— «Vê-se se o autor diz tudo o que é preciso; se apenas diz o que precisa; se o diz como é preciso.»




J.J. Barthélemy, A educação ateniense (1788),
Lisboa, Editorial Inquérito, s/d, p.34

janeiro 04, 2013


«Inclinava-me a acreditar, como alguns dos nossos sábios mais ousados, que a Terra participava também nessa marcha nocturna e diurna de que as santas procissões de Elêusis são, quando muito, o humano simulacro. Num mundo onde tudo não é mais que turbilhão de forças, dança de átomos, onde tudo está ao mesmo tempo em cima e em baixo, na periferia e no centro, concebia mal a existência de um globo imóvel, de um ponto fixo que não fosse simultaneamente móvel.»

Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano, 1974,
tradução de Maria Lamas, Ulisseia, 1981, pp.126-7

janeiro 02, 2013


«O pai tem o direito de vida ou de morte sobre os filhos. Quando nascem, colocam-lhos aos pés. Se o pai os toma nos braços, estão salvos. Quando não é bastante rico para os poder educar, ou quando se desespera por não poder corrigir certos vícios de conformação, desvia o olhar. Então, quem lhe apresentou a criança corre a expô-la bem longe ou a tirar-lhe a vida. Em Tebas as leis proibem tão bárbara prática, mas em toda a Grécia a autorizam ou toleram. Alguns filósofos aprovam-na, e outros, contraditados por moralistas mais rígidos, acrescentam que a mãe, quando já sobrecarregada por família numerosa, tem o direito de destruir o ser que traz no ventre.»

J.J. Barthélemy, A educação ateniense (1788),
Lisboa, Editorial Inquérito, s/d, pp.14-5

janeiro 01, 2013

         Fotos in blog xatoo

«Portugal será eterno como eterno é o sono da morte.»
«Hoje reparei no sorriso das vacas, que estavam satisfeitíssimas»