outubro 27, 2011



«Quando o curso da civilização toma um rumo inesperado, em vez do progresso contínuo que esperávamos, nos encontramos ameaçados pelos erros e males que acumulámos ao longo dos anos de barbárie, atribuímos a culpa de tal situação a tudo menos a nós próprios.

Pois não lutámos todos pelos mais nobres ideais? Pois não trabalharam incessantemente os nossos mais elevados espíritos para fazer deste mundo um mundo melhor? E todos esses esforços e esperanças não tiveram sempre como fim uma maior liberdade, justiça e prosperidade?

Se o resultado veio a ser tão diferente dos nossos objectivos e se em vez da liberdade é a escravidão e a miséria que vemos à nossa frente, não será evidente que existem forças sinistras que fizeram malograr as nossas intenções e que somos vítimas de algum poder demoníaco que teremos de vencer caso queiramos retomar a estrada que nos leva a um melhor destino?

Por maior que seja o nosso desacordo quanto ao nome do culpado, seja ele o malvado capitalismo, seja o espírito perverso de determinada nação, seja a estupidez dos nossos antepassados, seja ainda um sistema social contra o qual lutamos há meio século sem o conseguirmos derrubar completamente, há uma coisa sobre a qual todos nos pomos de acordo ou, pelo menos até há bem pouco tempo, todos nos púnhamos de acordo:

— as ideias triunfantes que, durante a última geração, se tornaram comuns à maior parte das pessoas bem intencionadas e que determinaram as principais modificações da nossa vida social, essas de modo algum as consideramos erradas.


Poderemos aceitar todas as explicações para a crise actual da nossa civilização, excepto uma: a de que o estado actual do mundo possa ser consequência de um erro nosso e de que a fidelidade a alguns dos nossos mais queridos ideais nos tenha conduzido a resultados totalmente diferentes daqueles que prevíamos.»

Frederico Hayeck, O caminho para a servidão,
(«The road to serfdom»), trad. Mª Ivone Serrão
de Moura, rev. de Orlando Vitorino, Teoremas,
Lisboa, 1977, pp.35-6

outubro 25, 2011



«O trabalho anual de uma nação é o fundo de que provêm originariamente todos os bens necessários à vida e ao conforto que a nação anualmente consome, e que consistem sempre ou em produtos imediatos desse trabalho, ou em bens adquiridos às outras nações em troca deles.

Portanto, consoante esta produção, ou aquilo que é adquirido mediante ela, se apresente em maior ou menor proporção relativamente ao número daqueles que vão consumi-la, a nação estará melhor ou pior fornecida de todos aqueles bens necessários à vida e ao conforto que estaria em condições de consumir.

Mas esta proporção deve, em todas as nações, ser regulada por duas circunstâncias diferentes: em primeiro lugar, pela perícia, destreza e bom senso com que o seu trabalho é geralmente executado; e em segundo lugar, pela proporção entre o número dos que estão empregados em trabalho útil e o daqueles que o não estão. Sejam quais forem o solo, o clima e a extensão do território de uma nação, a abundância ou escassez do seu suprimento anual dependerão sempre, em cada caso particular, destas duas condições.»

op.cit., pp.69-70

outubro 20, 2011




Pequena Fábula

«"Ai de mim", disse o rato. "O mundo está a ficar cada dia mais pequeno. Ao princípio era tão grande que eu tinha medo, estava sempre a correr, a correr, e fiquei contente quando finalmente vi paredes lá ao longe, à esquerda e à direita, mas estas longas paredes estreitaram-se tão depressa que eu agora estou já no último compartimento e ali no canto está a ratoeira para a qual sou obrigado a correr." "Só precisas de mudar de direcção", disse o gato, que logo o engoliu.»

in blog Catharsis: - Franz Kafka, Contos


Pequena Grande Fábula!

E ainda e sempre o problema
eterno d'o que parece e não é,
e também o do seu inverso
o d'o que é e não parece...

Sempre estamos posicionados
num dado referencial, e
não nos apercebermos
do referencial de
que o nosso
depende!

Dou este exemplo: - viajamos
num carro a cem à hora, até
fumamos os nossos cigarros.
Tal e qual como se num
sofá estivessemos
conversando.

Apenas, sucede
que esse convívio
de bem-estar referencia-se
ele próprio à condição de uma
velocidade em que algum ínfimo
detalhe pode causar a hecatombe
do primeiro habitat, tudo em estrita
obediência às leis invioláveis da Física.


Assim o caso
quando nos movemos
num referencial que parece, mas não é,
impossibilitando-nos de antever o que pode acontecer.

outubro 14, 2011


Noto que os "governantes"
- da troika dos credores -,
andam todos com a bandeira
nacional à lapela.

Ora, discordo desse
monopólio e já o destituí
usando-o e não governando.

Não que não concorde
com as medidas de austeridade
já tomadas, mas porque discordo
das que continuam a não ser tomadas.

A saber: trabalhar; vender, não comprar
e pagar ao estrangeiro, permita-o ou não
a legislação europeia e o comércio internacional.

Só assim procedendo se verá quem está certo e quem está errado.

outubro 11, 2011



Eco, publicou um novo 'policial-histórico',
a que chamou Il Cimitero di Praga, a trama
política ao longo do século xix,
a "teoria da conspiração"
ao rubro, digladiando
entre si, carbonários,
maçons, jesuítas
e católicos,

ante-câmara onde teriam sido forjados
os famosos Protocolos dos Sábios do Sião.

Numa mescla muito própria, Umberto Eco
mistura a história e a literatura,
a realidade e a ficção, num enredo de distância
crítica que, sob a capa de um aparente cepticismo,

vai destilando uma crença genuína e envergonhada
na cabala da "Forma Universal de Conluio",
onde o "povo eleito" acabará por
'administrar' o mundo inteiro!


Em boa verdade, não gostei :(

Sem dúvida, U. Eco é habilidoso
e tem talento, mas a trama
apresenta uma linearidade
algo infantil, embora
obscura.

E não gosto de ver misturada a História
com fantasias conspirativas e manias
de perseguição.

Pode bem dar-se que hajam muitas
sociedades secretas que almejam
fins de interesse pessoal
ou mesmo de interesse
universal e civilizacional.

No entanto, aprecio mais
ler o transcurso histórico
de um ou alguns séculos,

segundo a interacção intelectual e objectiva
do homem colectivo com a natureza
— em que se insere e de que depende —,

e não só pela rivalidade entre estados,
sociedades e classes sociais
em que a humanidade
se pluraliza.