maio 31, 2013


«O contacto com os génios traz, como benefício imediato, uma elevação; só pelo facto da sua superioridade, êles gratificam-nos, mesmo antes de nos ensinarem qualquer coisa. Dão-nos o tom; habituam-nos ao ar dos cumes. Movíamo-nos numa região baixa: dum golpe eguem-nos à sua atmosfera. Neste mundo de pensamento sublime, parece que se desvenda o rosto da verdade; fulgura a beleza; [ ].

O génio, quando fala, dá mostras de simplicidade encantadora; exprime o homem, e o seu eco repercute-se em nós. [ ] Escutai certos prelúdios de Bach. Dizem pouco: um curto motivo se repete, variações insistentes, de relevo tão pouco acentuiado como o duma medalha de Roty mas que nível de inspiração! Somos transportados a um mundo desconhecido, onde de bom grado ficaríamos a vida inteira. [ ]

Por detrás de cada facto oculta-se o infinito do pensamento; mas nós esperamos que a perspectiva se desdobre; o génio avança, afasta o véu e diz-nos: vem!

A ciência consiste em ver dentro, o génio vê dentro; freqüenta o íntimo dos seres e, graças a êle, fala-nos o mesmo ser e não os nossos ecos fracos e duvidosos.

O génio simplifica. A maior parte das grandes invenções resultam de concentrações súbitas e fulgurantes. As grandes máximas são múltiplas experiências condensadas. OL traço sublime, na pintura, na música, na arquitectura, na poesia, é um jacto que contém e unifica valores até aí disseminados e indecisos.»

A.-D. Sertillanges, A Vida Intelectual —
Espírito, Condições, Métodos (1920), Trad. e Pref.
A. Pinto de Carvalho, Arménio Amado-Editor,
Coimbra, 1941. p.141-3.

maio 29, 2013


«Seleccionar os livros. Não acreditar no reclamo interesseiro nem no chamariz dos títulos. Ter conselheiros dedicados e sabedores. Dessedentar-se só nas fontes. Freqüentar apenas o escol dos pensadores. O que nem sempre é possível em matéria de relações pessoais, é fácil, e convém aproveitar, em matéria de leituras. Admirar de alma e coração o que merece ser admirado, sem contudo prodigar a admiração. Desdenhar das obras mal feitas.

Ler só obras de primeira mão, onde brilham as ideias-mestras. Ora estas são pouco numerosas. Os livros repetem-se, diluem-se, ou então contradizem-se, o que é outra maneira de se repetirem. [ ] A maior parte dos escritores são apenas editores; é já alguma coisa. Voltemos, porém, ao asuunto.

Haveis de ler, sem prevenção, o que se escreve de bem; lereis os autores modernos, e tanto mais quanto precisardes de informações, de noções positivas em evolução ou em crescimento; [ ].

Em seguida deveis seleccionar nos livros. Nem tudo é igual. Nem por isso haveis de assumir a atitude de juíz; [ ]. Mas sois homem livre, permaneceis responsável [ ].

Além disso, lembrai-vos que até certo ponto um livro vale o que vós valeis, e o que o fizerdes valer. [ ] Escolhei o melhor que puderdes; mas procurai que tudo seja bom, largo, aberto ao bem, prudente e progressivo.»

A.-D. Sertillanges, A Vida Intelectual —
Espírito, Condições, Métodos (1920), Trad. e Pref.
A. Pinto de Carvalho, Arménio Amado-Editor,
Coimbra, 1941. p.133-5.

maio 27, 2013



«Enfim, para ennobrecer o espírito do trabalho, juntemos ao ardor, à concentração, à submissão, um esforço de alargamento que comunica a cada estudo ou a cada produção um alcance de algum modo total.

Um problema nunca pode encerrar-se em si mesmo, mas trasborda sempre, em razão da sua natureza; porque a inteligibilidade por êle invocada provém de manamciais que o transcendem.

Vem aqui a-propósito o que dissemos da ciência comparada. Cada objecto de estudo pertence a um todo onde produz e recebe acção, sofre e pões condições; não pode ser estudado à parte.

A especialidade ou análise pode ser um método, não deve ser um espírito. [ ] Isolo uma peça dum mecanismo, a-fim-de a considerar mais detidamente; mas enquanto a tenho nas mãos e examino, o pensamento deve repô-la no seu lugar, vê-la accionar no todo, sem o que a verdade ficará alterada.»

A.-D. Sertillanges, A Vida Intelectual —
Espírito, Condições, Métodos (1920), Trad. e Pref.
A. Pinto de Carvalho, Arménio Amado-Editor,
Coimbra, 1941. p.123-4.
Agora perdi o acesso ao outro blog,
e, pelos vistos, consigo entrar neste.
Que trapalhada!

maio 25, 2013

Parece que perdi o acesso à gestão deste blog.
Aparente e excepcionalmente, consegui entrar agora.
Informo: - mudei-me para o Novo Blog Experimental.

ab.,
v.

maio 13, 2013


«Para obedecer às leis do pensamento tenho de me mostrar perto das coisas ou antes no íntimo delas, porque pensar é conceber o que é, e escrever verdade, ou por outra escrever de acordo com o pensamento, é revelar o que é, e não enfiar frases. Por isso o segredo de escrever consiste em colocar-se ardentemente diante das coisas, até que elas vos falem e determinem os termos que as devem exprimir. [ ]

A verdade do estilo afasta o molde. Chamo molde a uma verdade antiga, a uma fórmula que passou para o uso comum, a um lote de expressões outrora novas e que já o não são por terem perdido o contacto com a realidade de onde nasceram, por flutuarem no ar, vãos ouropéis que tomam o lugar do autêntico ouro, o lugar de transcrição directa e imediata da ideia.»


A.-D. Sertillanges, A Vida Intelectual —
Espírito, Condições, Métodos (1920), Trad. e Pref.
A. Pinto de Carvalho, Arménio Amado-Editor,
Coimbra, 1941. p.181.

maio 11, 2013


«Podem-se explicar as qualidades do estilo em tantos artigos quantos se quiser; tudo, porém, creio eu, se resume em três palavras: verdade, individualidade, simplicidade, a não ser que se prefira sintetizar nesta única frase: escrever verdade.

O estilo é verdadeiro quando corresponde a uma necessidade do pensamento e quando se mantém em contacto íntimo com as coisas.

O discurso é acto de vida: não deve representar um corte na vida. É o que acontece quando caímos no artificial, no convencional; Bergson diria no tout fait

A.-D. Sertillanges, A Vida Intelectual —
Espírito, Condições, Métodos (1920), Trad. e Pref.
A. Pinto de Carvalho, Arménio Amado-Editor,
Coimbra, 1941. p.179-80.

maio 01, 2013

«Esta é, julgo eu, a última palavra a dizer sobre os livros. O livro é sinal, estimulante, ajuda, iniciador, não apenas substituto, nem prisão. O pensamento precisa de estar em nós. Lendo, não devemos ir para os mestres, devemos partir deles. Uma obra é berço, e não túmulo.»

A.-D. Sertillanges, A Vida Intelectual —
Espírito, Condições, Métodos (1920), Trad. e Pref.
A. Pinto de Carvalho, Arménio Amado-Editor,
Coimbra, 1941. p.153