«O contacto com os génios traz, como benefício imediato, uma elevação; só pelo facto da sua superioridade, êles gratificam-nos, mesmo antes de nos ensinarem qualquer coisa. Dão-nos o tom; habituam-nos ao ar dos cumes. Movíamo-nos numa região baixa: dum golpe eguem-nos à sua atmosfera. Neste mundo de pensamento sublime, parece que se desvenda o rosto da verdade; fulgura a beleza; [ ].
O génio, quando fala, dá mostras de simplicidade encantadora; exprime o homem, e o seu eco repercute-se em nós. [ ] Escutai certos prelúdios de Bach. Dizem pouco: um curto motivo se repete, variações insistentes, de relevo tão pouco acentuiado como o duma medalha de Roty mas que nível de inspiração! Somos transportados a um mundo desconhecido, onde de bom grado ficaríamos a vida inteira. [ ]
Por detrás de cada facto oculta-se o infinito do pensamento; mas nós esperamos que a perspectiva se desdobre; o génio avança, afasta o véu e diz-nos: vem!
A ciência consiste em ver dentro, o génio vê dentro; freqüenta o íntimo dos seres e, graças a êle, fala-nos o mesmo ser e não os nossos ecos fracos e duvidosos.
O génio simplifica. A maior parte das grandes invenções resultam de concentrações súbitas e fulgurantes. As grandes máximas são múltiplas experiências condensadas. OL traço sublime, na pintura, na música, na arquitectura, na poesia, é um jacto que contém e unifica valores até aí disseminados e indecisos.»
A.-D. Sertillanges, A Vida Intelectual —
Espírito, Condições, Métodos (1920), Trad. e Pref.
A. Pinto de Carvalho, Arménio Amado-Editor,
Coimbra, 1941. p.141-3.
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