«Para obedecer às leis do pensamento tenho de me mostrar perto das coisas ou antes no íntimo delas, porque pensar é conceber o que é, e escrever verdade, ou por outra escrever de acordo com o pensamento, é revelar o que é, e não enfiar frases. Por isso o segrêdo de escrever consiste em colocar-se ardentemente diante das coisas, até que elas vos falem e determinem os têrmos que as devem exprimir. [ ]
A verdade do estilo afasta o molde. Chamo molde a uma verdade antiga, a uma fórmula que passou para o uso comum, a um lote de expressões outrora novas e que já o não são por terem perdido o contacto com a realidade donde nasceram, por flutuarem no ar, vãos ouropéis que tomam o lugar do autêntico oiro, o lugar da transcrição directa e imediata da ideia.
Como observa Paul Valéry, o automatismo gasta as línguas. Para viver [ ] temos de utilizar sempre a sintaxe «em plena consciência», aplicando-nos a articular com vigilância todos os elementos, evitando certos efeitos que espontâneamente se ingerem esperando a vez de se fazerem valer.»
A.-D. Sertillanges, A Vida Intelectual —
Espírito, Condições, Métodos (1920), Trad. e Pref.
A. Pinto de Carvalho, Arménio Amado-Editor,
Coimbra, 1941. p.181.
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