janeiro 26, 2013
«"Que uns vivam livres na casa dos outros".
"Assim porquê? Para me acontecer, a mim, que a comprei, que a construí, que dela cuidei e que com ela tanto dispendi, que venhas agora tu, contra a minha vontade, usufruir aquilo que é meu?
Afinal, que é isto de tirar a uns os seus bens e dar a outros aquilo que é de outrém?
Quanto à listas de dívidas, que podem elas significar senão o facto de comprares tu uma quinta com o meu dinheiro, ficando tu a possuir a quinta enquanto eu fico sem o dinheiro?”
Por essa razão, para que não se verifique qualquer situação de dívida, que possa pôr em perigo a segurança da república, é necessário que se tomem certas medidas.
Tal circunstância pode ser evitada de várias maneiras, mas, de modo nenhum, caso venha a suceder que os ricos possam vir a perder tudo aquilo que possuem e aqueles, que devem, venham a lucrar com aquilo que não lhes pertence.
Com efeito, nada mais pode contribuir para que a república se mantenha solidamente do que a boa-fé, a qual não pode existir se não houver a necessidade de serem as dívidas liquidadas.»
Cícero, Dos Deveres (De Officiis),
Trad., Introd., Notas, Índice e
Glossário de Carlos Humberto Gomes,
Lisboa, Edições 70, 2000, Livro II, 83-84
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