«O semelhante reconhece o semelhante.»Pós-escrito: — Têm todos os universais exemplos
ou haverá universais não exemplificados?
Os realistas dividem-se quanto à resposta a dar a esta questão (Q):
(Q) há universais que não são exemplificados (E) por nada?
O
realismo platónico responde que sim:
há propriedades universais que não são exemplificadas por nenhuma coisa.
O
realismo aristotélico responde que não:
toda a propriedade universal é exemplificada, pelo menos, por uma coisa.
Note-se que é comum às duas correntes do realismo
admitir a existência de universais.
E, também, o próprio predicado E = “é exemplificado por”
deve ser interpretado num sentido intemporal, i.e., no sentido
de ter sido (passado) ou estar a ser (presente) ou vir a ser (futuro)
exemplificado.
Um argumento a favor do realismo platónico é o da
perfeição.
Nenhuma figura ou forma ou qualquer facto empírico
é a expressão perfeita das propriedades que exprime;
logo, os universais são necessários porque só com eles
os particulares exemplificados podem ser
explicados.
Contudo, poderá replicar-se que, pelo menos, em alguns casos,
haverá
particulares perfeitos. Ora, é bem possível: o próprio Platão,
o primeiro filósofo que de algum modo abordou a questão de estética
na cultura ocidental, admitia que o
belo sensível era uma expressão
directa do Bem Supremo no mundo das sombras dos sentidos! :))
Outro argumento a favor do realismo platónico é o de que,
propriedades e relações não exemplificadas, podem ser
indispensáveis do ponto de vista da
explicação causal,
científica. Aliás, como mostrou Hume e Quine, o nexo causal
entre dois acontecimentos, não sendo nem uma necessidade lógica,
nem uma relação observável intrinsecamente, é sempre
uma
relação abstracta que obtém satisfação
na conjunção constante observada
do par ordenado
causa-efeito.
No plano realista, a liberdade conceptual de
inventar objectos abstractos, numa operatória
simbólica prévia, e subtraída com sobriedade aos constrangimentos empíricos é, na minha opinião, uma condição de criatividade e investigação, de
experiência de pensamento, qualitativamente superior às limitações do realismo aristotélico, e como tal, preferível.