(continuação 1)
Serge Latouche ilustra a eminência da catástrofe ecológica no planeta com o fenómeno do crescimento de uma alga verde num lago. Supondo uma duplicação anual da alga na superfície do lago, uma alga inicial ocupando a nonagésima terceira bilionésima parte da área lacustre, ocupar-lhe-á toda a superfície ao fim de trinta anos. É o desenvolvimento de um ser vivo em progressão geométrica de razão dois num meio finito como o do lago, nele gerando a eutrofização da água, asfixia da vida subaquática e a morte do sistema lacustre.
Vejam-se os termos da progressão geométrica
S=1= Superfície total do lago.
A0 = área da alga inicial implantada no lago= 93/100 000 000 000=
=9.3^10^-10=1/(2^30)=2^-30
(Nota:— O sinal “^” lê-se «elevado a»).
A área da alga no lago,
no final de cada ano,
progride como segue:
A1= 2x(2^-30)=2xA0
A2= 2xA1=2x2xA0=2^2xA0
A3= 2xA2=2x2x2xA0=2^3xA0
...
An= área da alga no final do nº ano= 2^nxA0
...
A24= 2^24xA0=2^-6=1.5625%
A25= 2^25xA0=2^-5=3.125%
A26= 2^26xA0=2^-4=6.25%
A27= 2^27xA0=2^-3=12.5%
A28= 2^28xA0=2^-2=25%
A29= 2^29xA0=2^-1=50%
A30= 2^30xA0=2^-0=100%
Ou seja, enquanto que para alcançar a cobertura de pouco mais de 3% da superfície do lago, a alga demorou duas décadas e meia, daí em diante o crescimento é galopante e num lustro a vida lacustre extingue-se.
Serge Latouche contrapõe a este destino ameaçador, a sabedoria de um outro ser vivo, o caracol, que para lá de ensinar a lentidão, ilustra como se inverte uma progressão de crescimento: o caracol constrói a arquitectura delicada da sua casca acrescentando sucessivamente espirais cada vez maiores; porém, bruscamente, inicia enrolamentos decrescentes, assim contendo o crescimento da casca nos limites da sua finalidade vital.
Conclui o autor: «Este afastasmento do caracol em relação à progressão geométrica, que, no entanto, abraçara durante algum tempo, aponta-nos o caminho para pensar uma sociedade do “decrescimento”, se possível serena e convivial.»
op. cit., pp.35-37.
(continua)
[vide abaixo]
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