junho 08, 2011

(continuação 3)



No último capítulo do seu Pequeno Tratado, Serge Latouche interroga-se se o Decrescimento é um Humanismo. Aparentemente, defende que não, embora tente que não seja um anti-humanismo nem um anti-universalismo. Consegue-o? Não sei; mas por mim, eu limito-o pragmaticamente à condicionalidade social do princípio poluidor-pagador, defendido por Pigou há mais de oitenta anos.

Na verdade, os ecologistas rejeitam o «antropocentrismo das Luzes» e vinculam-se a um «ecocentrismo total»: - os seres humanos são uma das múltiplas espécies viventes e a sua realidade substancial não passa de um «denominador comum» dos seres humanos particulares realmente existentes.

Esta posição reconduz-nos ao debate metafísico do realismo aristotélico versus o de Platão. Para este, a realidade da humanidade não se limita à simples existência da espécie, porquanto há uma humanidade dos seres como seres humanos que independe dos seres humanos concretos (presentes, passados ou futuros), ou seja a substância do tipo «ser humano» é conceptualizável como uma abstracção e não como mero atributo comum de seres que existem de facto, como defende Aristóteles.

Enquanto a concepção aristotélica integra o homem no particularismo da sua cultura, religião, comunidade, relativizando as diferentes sociedades por um respeito equalizado por todas, independentemente das suas diferenças serem desprezáveis ou estimáveis, a concepção platónica aceita invariantes transculturais inquestionáveis como, por exemplo, os direitos do Homem, a democracia, a economia, repudiando o “comunitarismo” das culturas concretas, cujo relativismo “legitima e alimenta a barbárie” (Maryam Namazie)

Serge Latouche procura não ceder a nenhuma ecolatria buscando um meio termo entre a sacralização animista da natureza e o antropocentrismo, não tratando «os animais e as coisas como pessoas nem as pessoas como coisas (como o faz a tecnoeconomia). Há respeito pelas coisas, os seres e as pessoas», ou seja um verdadeiro ecoantropocentrismo, imprescindível à propria sobrevivência da humanidade.


(fim)
[vide abaixo, pos-escrito]

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