novembro 30, 2007

Thomas Mann, "As cabeças trocadas" - 45

«Deixemos agora as entranhas da caverna rochosa,
e voltemos ao ar livre, para junto dos dois que esperavam;
Shridaman manifestara o desejo de fazer apenas uma curta oração;
por que se demoraria tanto?»

op. cit., p.81


e separou do tronco
a própria cabeça.

Thomas Mann, "As cabeças trocadas" - 44

«Já de lábios exangues, rezou:

— Ó tu, que não tens princípio nem fim,
que existias antes da criação! O povo honra-te
com a imolação de inumeráveis criaturas,
pois a ti é devido o sangue,
a vida de todos!

Porque não hei-de obter a tua misericórdia
para a minha salvação, oferecendo-me a mim próprio,
em holocausto? Bem sei que nem assim poderei ficar livre
deste ego e não mais ser Shridaman, para quem toda
a volúpia não é mais do que perplexidade,
pois que não é ele que a desperta!»



Pronunciadas estas palavras,
ergueu a espada do solo

e separou do tronco a própria cabeça.»

op. cit., p. 76

Thomas Mann, "As cabeças trocadas" - 43

«Shridaman cravou os olhos cheios de místico terror
no semblante sinistro e feroz da Senhora da Vida
e da Morte, daquela que compele ao sacrifício.

O redemoinho dos braços arrastava-lhe os sentidos
num turbilhão de embriaguez.»

op.cit., p. 75-6


enquanto uma poça de sangue se estendia a seus pés.


e os seus dezoito braços formavam uma roda vertiginosa.

Thomas Mann, "As cabeças trocadas" - 42

«No recinto escavado na rocha, Shridaman
atravessou a sala de audiência

dirigindo-se ao âmago do templo,
à matriz da grande Mãe.


Ao pé da escada, Shridaman estremeceu
e recuou titubeante. A figura de Kali era horrível.

Cercado por uma moldura de crânios e de mãos e pés decepados,
o ídolo sobressaía da parede de rocha viva. Adornavam-na
uma coroa resplandecente, e colares e cinto de ossos
e membros cortados, e os seus dezoito braços
formavam uma roda vertiginosa.


Ela brandia espadas e fachos ardentes.
Sangue ainda quente fumegava na taça feita de um crânio
que com uma das mãos levava à boca,

enquanto uma poça de sangue se estendia a seus pés.»

op. cit., p. 74

novembro 29, 2007

Thomas Mann, "As cabeças trocadas" - 41

«Obedecendo ao impulso do seu coração,
Shridaman exprimiu o desejo de parar
e prestar homenagem à Deusa.

«Voltarei dentro de poucos minutos.
— disse aos companheiros.
— Esperem aqui.»»

op. cit., p.73

Thomas Mann, "As cabeças trocadas" - 40



«e reconheceram-no como um santuário da Dewi,
Durga, a terrível, a inacessível,
Kali, a Mãe tenebrosa.»
.
op.cit., p. 73


e chegaram a um templo talhado na própria rocha

Thomas Mann, "As cabeças trocadas" - 39

«Quando, finalmente, o dia rompeu, procuraram por todos os lados uma saída; ao atingirem a orla da selva, encontraram um estreito desfiladeiro entre rochedos e chegaram a um templo talhado na própria rocha»

op.cit., p.72

Thomas Mann, "As cabeças trocadas" - 38


«Nada podiam fazer, senão acender uma fogueira
para afugentar os animais bravios
e esperar o nascer do Sol.»
op. cit., p.72

novembro 28, 2007


pois a vegetação, tornando-se cada vez mais
densa, transformava-se em cerrada floresta

Thomas Mann, "As cabeças trocadas" - 37

«Sem luar, tendo apenas as estrelas para se orientar, entrou por um caminho que, daí a pouco, já não era caminho de espécie alguma mas uma vereda entre árvores, ainda assim ilusória e traiçoeira, pois a vegetação, tornando-se cada vez mais densa, transformava-se em cerrada floresta, onde logo se perdeu a senda pela qual podiam ter voltado.»

op. cit., p.72


A escuridão coadunava-se
com os ânimos perturbados.

Thomas Mann, "As cabeças trocadas" - 36

«A escuridão coadunava-se com os ânimos perturbados. Inconscientemente, projectavam no ambiente a confusão que lhes ia na alma — o que fez com que perdessem a direcção. Nanda esqueceu-se de guiar o zebu e o dromedário pelo atalho que, separando-se da estrada, levava à aldeia natal de Sita.»

op.cit., p.71

Thomas Mann, "As cabeças trocadas" - 35

«Viajavam, de preferência, nas trevas da noite ou melhor antes do amanhecer, evitando o calor opressivo do meio-dia, medida sensata, inspirada, no entanto, em outros motivos que não a sensatez.»

op.cit., p.71

novembro 27, 2007

Thomas Mann, "As cabeças trocadas" - 34

«Assim, em silêncio, prosseguiam a jornada,
mas a respiração dos três acelerava-se-lhes,
como se tivessem corrido.

Uma pessoa dotada de clarividência teria,
certamente, percebido a sombra
que sobre eles pairava
qual asa negra.»

op.cit., p.71


Foram num carro [ ] puxado por um zebu e um dromedário



Thomas Mann, "As cabeças trocadas" - 33

«Foram num carro coberto, fechado por cortinas e puxado por um zebu e um dromedário. Nanda, servindo de condutor, ia sentado em frente do casal, as pernas pendentes balouçando. Os esposos permaneciam silenciosos, sentado atrás de Nanda, de tal modo que os seus olhares, quando dirigidos para a frente pousariam no seu pescoço; e assim faziam os da jovem mulher.»

op. cit., p.70

novembro 26, 2007

Thomas Mann, "As cabeças trocadas" - 32

«Seis meses decorreram desde que a mãe de Shridaman acolhera a linda Sita nos seus braços, na qualidade de filha e desde que esta concedera ao marido pleno gozo das delícias conjugais.

Passara o pesado Verão e, em breve, a estação das chuvas passaria também, quando, obtido o consentimento dos pais de Shridaman, os recém-casados combinaram com o seu amigo Nanda uma visita à família de Sita.»

op.cit., p.69


Aqui advertimos o ouvinte
[ ] para que não se iluda

Thomas Mann, "As cabeças trocadas" - 31

«Aqui advertimos o ouvinte, talvez levado pelo até agora
feliz desenrolar da narrativa, para que não se iluda
quanto ao seu verdadeiro carácter.»

op.cit., p.69


Nanda [...] foi o último a transpor o limiar da porta.

Thomas Mann, "As cabeças trocadas" - 30

«Ali, entre beijos, gracejos e lágrimas, todos se despediram.
Nanda, que estivera a seu lado em todos os momentos,
foi o último a transpor o limiar da porta.»

op.cit., p.65


... onde se erguia o tálamo juncado de flores.

Thomas Mann, "As cabeças trocadas" - 29

«Lá, novos ritos de bom augúrio se cumpriram, lá também caminharam em volta do fogo; ele deu-lhe cana-de-açúcar e deixou-lhe cair no regaço o anel nupcial. No banquete sentaram-se outra vez, cercados de parentes e amigos.

Depois de comerem e beberem, e após a aspersão de água de rosas e água do Ganges, foram acompanhados por todos os convidados até à alcova nupcial, que recebeu o nome de «aposento do par feliz», e onde se erguia o tálamo juncado de flores.»

op.cit., p.65

novembro 25, 2007


fixou, pela primeira vez,
os olhos no esposo...

Thomas Mann, "As cabeças trocadas" - 28

«E assim chegou o dia em que Sita, a de membros delicados, o corpo ungido de sândalo, cânfora e óleo de coco, ornada de jóias, cingida nas vestes nupciais, a cabeça envolta num vaporoso véu, fixou, pela primeira vez, os olhos no esposo que lhe fora destinado. Depois, em solene cortejo, num carro puxado por touros brancos, partiram para a sua aldeia e para junto da sua mãe.»

op. cit., p.64

Thomas Mann, "As cabeças trocadas" - 27

«O dia do casamento, escolhido conforme o conselho dos versados na interpretação dos signos celestes, aproximava-se. A fogueira nupcial foi feita sobre montes de bosta de vaca, no pátio da casa pertencente aos pais de Sita.»

op. cit., p.64


O contrato de casamento foi redigido

Thomas Mann, "As cabeças trocadas" - 26

«Se depressa o disse, mais depressa o fez. O contrato de casamento foi redigido, a sua assinatura celebrada com uma festa e troca de dádivas apropriadas.»

op.cit., p.63


... iria à aldeia do Abrigo do Bisonte

Thomas Mann, "As cabeças trocadas" - 25

«Pouco a pouco, graças ao sólido raciocínio de Nanda, Shridaman deixou-se convencer e mostrou-se agradecido. Caberia a Nanda expor o assunto a Bhavabhuti, pai de Shridaman, e persuadi-lo a entrar em entendimento com os pais da donzela. Depois, como representante do pretendente, iria à aldeia do Abrigo do Bisonte, para solicitar a mão da eleita e para, no papel de amigo, facilitar a aproximação do par. »

op. cit., p.62

novembro 24, 2007



podes viver venturoso
com a tua noiva de belos quadris!

Thomas Mann, "As cabeças trocadas" - 24

«— Em suma, são gente com quem se pode falar;
e para que serviria um amigo como o teu Nanda,
senão para solucionar esse problema?


Ajudar-te-ei a construir a casa nupcial,
na qual podes viver venturoso

com a tua noiva de belos quadris!»

op.cit., p.59


não é nenhuma Deusa,
embora talvez assim te parecesse...

Thomas Mann, "As cabeças trocadas" - 23

Depois, sempre rindo, exclamou:
— Shridaman, meu irmão, como me sinto feliz por saber que não é nada de mais grave! Enganas-te ao julgar que só os deuses têm direito à realização dos seus desejos. Nada é mais humano e mais natural do que o teu anseio de semear naquele sulco. (Assim se exprimiu porque Sita significa sulco). Lembra-te que Sita da aldeia do Abrigo do Bisonte não é nenhuma Deusa, embora talvez assim te parecesse quando a viste nua no santuário de Durga; é uma pequena bastante vulgar embora excepcionalmente bonita; ela vive como toda a gente, debulha o milho, cozinha a sopa, fia lã e tem progenitores como toda a gente, ainda que Sumantra, o pai, possa vangloriar-se de ter algum sangue guerreiro nas veias.

op.cit., p.59

novembro 23, 2007



Apaixonado! Apaixonado!

Thomas Mann, "As cabeças trocadas" - 22

«Depois, de Nanda muito insistir, o amigo fez a seguinte confissão:

— Desde que no santuário de Dewi, contemplámos
aquela virgem nua mas virtuosa, um sofrimento
foi lançado na minha alma e me consome todas
as energias; rouba-me o sono e o apetite,
leva-me à destruição.

— Apaixonado! — gritou Nanda — Apaixonado!
Nada mais nada menos. Então é essa
a tua moléstia fatal.
Que graça!»

op.cit., p.58

Thomas Mann, "As cabeças trocadas" - 21

«Assim continuaram a jornada, até que as respectivas tarefas
os levaram por algum tempo por caminhos diferentes.
Mas já o sol se tinha levantado três vezes
quando os dois amigos voltaram
ao local de separação e de reencontro.

Shridaman apareceu de faces encovadas e olhos tristes.
Não manifestou alegria à vista do amigo e pôs-se a
andar ao lado de Nanda, abatido e desanimado.

Tudo parecia indicar doença,
o que Shridaman admitiu e mais
considerou a sua moléstia incurável e fatal.»

op.cit., p.53

Thomas Mann, "As cabeças trocadas" - 20

«— Pronto, acabou-se! — disse Nanda.
— Agora, podemos ao menos falar e mover-nos.

— Devo confessar-te, Nanda, que experimentei
um verdadeiro alívio quando me disseste o nome
daquela que observamos, pois que conheci de Sita
algo mais do que a imagem, já que o nome
é parte da essência e da alma.»

op.cit., p.39

novembro 22, 2007


... e desapareceu nas escadarias
que levavam ao templo.

Thomas Mann, "As cabeças trocadas" - 19

«Depois, por alguns momentos, Sita ficou a brincar, ora mergulhando, ora deslizando nas águas. Quando, por fim, voltou a terra, estava fresca e rutilante, e ainda mais bela. Tornou a vestir-se e desapareceu nas escadarias que levavam ao templo.»

op.cit., p.39

Thomas Mann, "As cabeças trocadas" - 18

«— Mas eu conheço-a! — murmurou Nanda, de súbito, estalando os dedos. — Agora mesmo acabo de identificá-la. É Sita, filha de Sumantra, da vizinha aldeia do Abrigo do Bisonte. Baloucei-a nos braços em louvor ao Sol, na festa da Primavera. — Mais tarde mo contarás, peço-te — interrompeu Shridaman, num murmúrio ansioso.»

Op.cit., p.38


era de rara beleza...

Thomas Mann, "As cabeças trocadas" - 17

«Continuaram a olhar, calados e imóveis.
A jovem de bronze dourado unira as mãos e
rezava, antes de descer para o banho purificador.

Viram-na um pouco de perfil e assim não lhes passou
despercebido que não somente o corpo mas também
o rosto, entre os brincos oscilantes, era de rara beleza;

a harmonia era completa e a beleza da face
confirmava plenamente a perfeição das formas.»

Op.cit., p.37

Thomas Mann, "As cabeças trocadas" - 16

«— Retiremo-nos — disse Shridaman, sentando-se,
os olhos postos à virginal figura. — Não
é justo que não nos veja ~
enquanto a vemos.»

Op. cit., p.37

novembro 21, 2007



o maravilhoso lance dos quadris...

Thomas Mann, "As cabeças trocadas" - 15

«O que mais impressionava em todo o conjunto, o que melhor representa o pensamento de Brama — sem, contudo, em nada prejudicar a perturbadora doçura dos seios, que deviam arrebatar irresistivelmente a alma mais fria e despertá-la para a vida dos sentidos — era a união das magníficas nádegas com a esbelteza e a dócil flexibilidade das espáduas de sílfide, acentuada pelo contraste entre o maravilhoso lance dos quadris — dignos por si sós de todos os encómios — e a grácil fragilidade da cintura.»

Op.cit., p.36


Estava inteiramente nua.

Thomas Mann, "As cabeças trocadas" - 14

«Perto do santuário uma jovem preparava-se para cumprir o ritual da purificação. Estava inteiramente nua. A beleza do seu corpo deslumbrava. Parecia feita da essência de Maya, num colorido dos mais encantadores, nem muito escuro nem muito pálido, antes como bronze de reflexos dourados. As suas formas soberbas correspondiam ao pensamento de Brama: as adoráveis espáduas eram delicadas como as de uma menina; a deliciosa curva dos quadris alargava-se numa ampla bacia; os seios, virginais e firmes, despontavam quais botões floridos e as esplêndidas linhas das nádegas bem nutridas estreitavam-se para o dorso, o menor e mais delicado que se podia imaginar.»

Op.cit., p.35

Thomas Mann, "As cabeças trocadas" - 13

«— Pss…! Pelo fogo dos céus e o trovão das nuvens! —
sussurrou de repente, pousando um dedo sobre os grossos lábios.
— Shridaman, meu irmão, senta-te de manso e espreita.
Vê quem desce para o banho. Abre os olhos que vale a pena!
Ela não pode ver-nos, mas nós podemos vê-la perfeitamente.»

Op.cit., p.35

novembro 20, 2007

Thomas Mann, "As cabeças trocadas" - 12

«Ficaram calados por algum tempo. Shridaman permaneceu
deitado, contemplando o céu. Nanda, os braços robustos
cingindo os joelhos, olhava por entre as árvores para
o declive que levava ao lugar do banho
sagrado da Mãe Kali.»

op. cit., p.35

Thomas Mann, "As cabeças trocadas" - 11

«Os jovens manifestaram prazer por terem chegado a
esse sítio que lhes oferecia ensejo para a devoção,
bem como para restaurar as forças
e descansar à sombra.»

op. cit., p.20


Os degraus que conduziam ao rio...

Thomas Mann, "As cabeças trocadas" 10

«O templo era dedicado à Senhora de todos os desejos e alegrias
e ostentava uma cúpula em forma de bulbo.

Os degraus que conduziam ao rio também eram de madeira
e estavam gastos, mas ainda serviam para uma descida digna.»

op. cit., p.19

novembro 19, 2007



... um pequeno templo de madeira...

Thomas Mann, "As cabeças trocadas" - 9

«O local onde os dois amigos pararam não era um desses
grandes centros, cheios de oferendas, mas simplesmente
na margem do riacho da Mosca Dourada, que ali se elevava
em áspero declive. No topo ficava um pequeno templo
de madeira, já um tanto escalavrado, mas abundante
em figuras ricamente esculpidas.»

op.cit., p.19

novembro 18, 2007



... consagrado a Kali, a Mãe dos mundos e de todos os seres

Thomas Mann, "As cabeças trocadas" - 8

«Assim, chegaram a um local de imersão ritual, consagrado a Kali,
Mãe dos mundos e de todos os seres, aquela que a tudo abraça
e que é a embriaguez dos sonhos de Vichnu.»

op.cit., p.18

Thomas Mann, "As cabeças trocadas" - 7

«Aconteceu, porém, que na linda Primavera,
quando o ar vibrava com o canto dos pássaros,
Nanda e Shridaman fizeram juntos uma viagem
a pé pelo país, cada qual por motivos particulares.»

op.cit., p.17


o desassossego suscita o espanto...

Thomas Mann, "As cabeças trocadas" - 6

«A amizade dos dois jovens assentava na divergência
entre as suas noções acerca da pessoa física e moral;
cada um deles procurava modelar a sua pela
do companheiro. Com efeito, a encarnação
cria o individualismo, este provoca a
diferença, a diferença engendra a
comparação,

desta nasce o desassossego, o desassossego
suscita o espanto, o espanto tende à admiração,
a admiração, finalmente, desperta o desejo
de troca e união.»

op.cit., p.10

novembro 17, 2007

Thomas Mann, "As cabeças trocadas" - 5




«Viviam ambos na mesma aldeia,
onde havia um templo

e que se chamava Bem-Estar das Vacas.»

op.cit., p.10

Thomas Mann, "As cabeças trocadas" - 4



«O mais jovem chamava-se Nanda;
o mais velho Shridaman.»

op.cit., p.10



... da grande Nutriz do Mundo

Thomas Mann, "As cabeças trocadas" - 3

«Do princípio ao fim, ela sucedeu exactamente como vamos dizer:
— Era no tempo em que a memória se elevava na alma dos homens,
em que a nostalgia da Mãe comum rodeava os velhos
símbolos de um novo e santo prestígio temeroso
e engrossava a multidão dos peregrinos

que, na Primavera, afluíam aos santuários
da grande Nutriz do Mundo;


foi nesse tempo que dois jovens, pouco diferentes em idade
e casta porém muito dessemelhantes de corpo,
se tornaram íntimos amigos.»

op.cit., p.9


... tomar por modelo
a intrepidez do narrador

Thomas Mann, "As cabeças trocadas" - 2

«Seria desejável, para quem a escuta, tomar por modelo
a intrepidez do narrador, pois requer quase
mais coragem relatar do que
ouvir tal história.»

op.cit., p.9


Sita, a dos belos quadris...

Thomas Mann, "As cabeças trocadas" - 1

«A história de Sita, a dos belos quadris, filha de Sumantra,
criador de gado, mas de linhagem guerreira, e dos seus dois esposos
(se assim podemos dizer) é de tal modo sangrenta e perturbadora
para os sentidos, que exige do ouvinte grande energia e
firmeza de ânimo para resistir às aterradoras
fantasmagorias de Maya.»

op.cit., p.9

Thomas Mann



Thomas Mann (1875-1955), romancista admirável,
prémio Nobel de Literatura de 1929, publicou em 1940
um dos seus contos mais exóticos, de uma sensualidade
excerbada e uma violência sanguinária tal que o leitor
queda-se perplexo pelo ritmo estonteante das paixões
que se desenrolam sob a pena brilhante do escritor
consagrado: As Cabeças Trocadas -Uma lenda hindu,
(«Die vertauschten Köpfe» - Eine indische Legende).

A fim de estimular a leitura desta e doutras obras do autor,
transcreverei de seguida - com omissões -, alguns trechos
significativos daquela lenda, intercalando-os
com imagens avulsas da net, baseado
na tradução de Liane de Oliveira
e E. Carrera Guerra, editora
«Livros do Brasil», 1987.

novembro 03, 2007



«A potência é poder efectivo, não uma simples possibilidade.
Todos os seres realizam, em cada instante, toda a sua potência,
que o mesmo é dizer, fazem tudo quanto podem para sobreviver.

É, portanto, pelo respectivo grau de potência que se define cada um deles.
Cada ser, cada indivíduo, é aquilo que for a sua potência ou grau de afirmação
e perseverança face ao contexto que o rodeia. Pela mesma razão,
cada ser, em cada momento, é tudo quanto pode.

Donde se conclui que a virtude equivale, por definição,
à própria realização do que é útil à conservação do ser.»

Diogo Pires Aurélio, Imaginação e Poder,
Edições Colibri, Lisboa, 2000, p. 84