«Aqueles que, pela idade ou pelo vigor, são chamados à profissão das armas «recebem do Estado um soldo que chega para se sustentarem. Quis, pois, que a «classe do povo que não presta serviço militar e vive do seu trabalho tivesse «também a sua parte nesta distribuição dos dinheiros públicos; mas, para «que ela não se tornasse o prémio da preguiça ou da ociosidade, empreguei «estes cidadãos na construção de vastos edifícios onde toda a espécie de «artistas encontrará em que se ocupar, por muito tempo.
«Assim, aqueles que continuam em suas casas terão um meio de colher, «das receitas da república, o mesmo auxílio que os marinheiros, os «soldados e os que são encarregados da guarda das fortalezas.
«Comprámos a pedra, o bronze, o marfim, o oiro, o ébano, o cipreste; e «inúmeros operários, carpinteiros, pedreiros, ferreiros, canteiros, «tintureiros, ourives, ebanistas, pintores, bordadores, torneiros, estão «ocupados em trabalhá-los.
«Os comerciantes marítimos, os marinheiros e os pilotos conduzem por mar «uma quantidade imensa de materiais; os almocreves, os carroceiros, «levam-nos por terra; os carpinteiros de carros, os cordoeiros, os que «arrancam a pedra, os albardeiros, os calceteiros, os mineiros, exercem, à «porfia, a sua indústria.
«E cada ofício tem ainda, como um general do exército, às suas ordens, um «grupo de trabalhadores sem profissão determinada, que são como um «corpo de reserva e que ele emprega como auxiliares.
«Assim, todas as idades e todas as condições são chamadas a compartilhar «na abundância que estes trabalhos espalham por toda a parte.»
Plutarco, Péricles, Reformador de Atenas (429 a.C.),
Trad. A- Lobo Vilela, Lisboa, Ed. Inquérito Lda, p.30-31