dezembro 31, 2009
dezembro 30, 2009
os mistérios de eleusis xvii
Perséfona: — Sobre este véu azul de dobras intermináveis,
bordo, com a minha agulha de marfim, as figuras
inumeráveis dos seres e de todas as coisas.
Terminei a história dos Deuses:
bordei o Caos terrível de
cem cabeças e
mil braços.
Dele deverão surgir os seres mortais.
Quem, então, os fez nascer?
O Pai dos Deuses disse-me que foi Eros.
Mas nunca o vi, ignoro a sua forma.
Assim, quem me pintará o seu rosto?
dezembro 29, 2009
os mistérios de eleusis xvi
O coro das ninfas: — Ó Perséfona! Ó Virgem, Ó casta noiva
do Céu, que bordas as figuras dos Deuses no teu véu,
possas tu nunca conhecer as ilusões vãs
e os inúmeros males da terra.
A eterna Verdade sorri-te. O Teu esposo celeste, Dionisos,
espera-te no Empíreo. Por vezes ele aparece-te sob a forma
de um sol longínquo; seus raios acariciam-te;
respira o teu sopro e bebes a sua luz…
Antecipadamente, vós vos possuís!…
Ó Virgem, quem é mais feliz do que tu?
dezembro 28, 2009
os mistérios de eleusis xv
dezembro 27, 2009
os mistérios de eleusis xiv
Deméter: — Filha amada dos Deuses,
conserva-te nesta gruta até eu regressar
e borda o meu véu.
O céu é a tua pátria e o universo é teu.
Tu vês os Deuses; eles acorrem à tua chamada.
Mas não escutes a voz de Eros, o ardiloso,
de olhar suave e pérfidos conselhos.
Guarda-te de sair da gruta e
nunca colhas as sedutoras flores da terra;
o seu perfume perturbador e funesto
far-te-ia perder a luz do sol
e até a memória.
Borda o meu véu e
sê feliz até ao meu regresso
com as ninfas tuas companheiras.
Então, no meu carro de fogo, atrelado de serpentes,
levar-te-ei aos esplendores do Éter, sob a via láctea.
dezembro 26, 2009
os mistérios de eleusis xiii
dezembro 25, 2009
os mistérios de eleusis xii
Chegavam dois a dois, a uma clareira.
Ao fundo viam-se rochas e uma gruta. Á frente,
um prado com ninfas deitadas em volta de uma fonte.
Ao fundo da gruta, avistava-se Perséfona, sentada num trono,
nua até à cintura como uma Psiqué, o seu busto esbelto
emergindo casto de uma túnica enrolada como
um vapor de azul nos seus flancos.
Ela parecia feliz, inconsciente da sua beleza
e bordando um longo véu de fios multicores.
Deméter, sua mãe, está de pé,
perto dela, com o ceptro na mão.
dezembro 24, 2009
os mistérios de eleusis xi
dezembro 23, 2009
os mistérios de eleusis x
E declaravam com gestos solenes:
«Ó aspirantes dos Mistérios, eis que estais na morada de Proserpina.
Tudo que ides ver, vai surpreender-vos. Aprendereis
que a vida presente não é mais do que um manto
de sonhos mentirosos e confusos.
O sono que vos envolve numa zona de trevas,
arrasta os vossos sonhos e os vossos dias na sua corrente,
como nuvens passageiras que se desfazem ao olhar.
Mas no além, estende-se uma zona de luz eterna.
Que Perséfona vos seja propícia e
ela mesmo vos ensine a franquear o rio das trevas
e a penetrar até à Deméter Celeste.»
dezembro 22, 2009
os mistérios de eleusis ix
dezembro 21, 2009
Solstício de Inverno
Em 2009, o Solstício de Inverno ocorre no dia 21 de Dezembro às 17h47m. Este instante marca o início do Inverno no Hemisfério Norte, a estação mais fria do ano, que se prolonga por 88,99 dias. A Primavera chegará com o próximo Equinócio, no dia 20 de Março de 2010 às 17h32m.
Os solstícios (em Junho e Dezembro) são os pontos da eclíptica em que o Sol atinge as posições máxima e mínima de altura em relação ao equador, isto é, pontos em que a declinação do Sol atinge extremos: máxima no solstício de Verão e mínima no solstício de Inverno.
in Modus Vivendi
Os solstícios (em Junho e Dezembro) são os pontos da eclíptica em que o Sol atinge as posições máxima e mínima de altura em relação ao equador, isto é, pontos em que a declinação do Sol atinge extremos: máxima no solstício de Verão e mínima no solstício de Inverno.
in Modus Vivendi
os mistérios de eleusis viii
dezembro 20, 2009
os mistérios de eleusis vii
dezembro 19, 2009
os mistérios de eleusis vi
dezembro 18, 2009
os mistérios de eleusis v
dezembro 17, 2009
os mistérios de eleusis iv
dezembro 16, 2009
os mistérios de eleusis iii
Os padres de Eleusis ensinaram sempre a grande doutrina
esotérica que lhes viera do Egipto. Mas, no decurso
das idades revestiram-na do encanto de uma
mitologia plástica e fascinante.
Por uma arte subtil e profunda, esses sedutores
souberam servir-se das paixões terrestres
para exprimir as ideias celestes.
dezembro 15, 2009
os mistérios de eleusis ii
Se o povo reverenciava em Céres a terra mãe
e a deusa da agricultura, os iniciados
viam-na como a luz celeste, mãe das almas,
e a inteligência divina, mãe dos Deuses cósmicos.
O seu culto era servido por sacerdotes da Ática.
Diziam-se filhos da Lua, quer dizer,
mediadores entre a Terra e o Céu,
oriundos da esfera onde
se encontra a ponte
pela qual as almas descem e sobem.
dezembro 14, 2009
os mistérios de eleusis i
Porque aí vem mais um Natal
e um Solstício de Inverno
vou recontar e registar
neste blog
a bela estória
de Deméter e Perséfona,
um dos mitos natalícios
dos Mistérios de Elêusis
Os mistérios de Eleusis foram, na antiguidade grega e latina,
objecto de uma veneração especial. Em tempos imemoriais,
uma colónia grega vinda do Egipto trouxe à tranquila baía
de Eleusis o culto da grande Ísis sob o nome de Deméter
ou a mãe universal.
Desde então Eleusis conservou-se um centro de iniciação.
Deméter e sua filha Perséfona presidiam aos grandes mistérios.
e um Solstício de Inverno
vou recontar e registar
neste blog
a bela estória
de Deméter e Perséfona,
um dos mitos natalícios
dos Mistérios de Elêusis
Os mistérios de Eleusis foram, na antiguidade grega e latina,
objecto de uma veneração especial. Em tempos imemoriais,
uma colónia grega vinda do Egipto trouxe à tranquila baía
de Eleusis o culto da grande Ísis sob o nome de Deméter
ou a mãe universal.
Desde então Eleusis conservou-se um centro de iniciação.
Deméter e sua filha Perséfona presidiam aos grandes mistérios.
dezembro 13, 2009
Nunca pensei assistir na vida
a um concerto de José Cid!
Não é que o ache mau cantor
e compositor: não acho; e
orgulho-me que ele contrarie,
com a sua criatividade
e talento, esse predomínio
asfixiante da música anglo-
-saxónica: é com produtores
como José Cid que se contribui
para substituir importações!
O facto é que nunca me moveria
a ir a ouvi-lo, salvo a circunstância
inesperada de ter sido convidado
para acompanhar duas senhoras,
todos nós, elas, eu e o Cid cantor,
todos da mesma idade e geração.
Gostei de ver que o artista
tem o seu auditório fiel;
é um prazer ver o prazer
das pessoas, felizes com o seu
ídolo! :) Uma coisa, porém,
é deplorável: o volume imbecil
das colunas de som! Para quando
a Asae dos espectáculos musicais!?
:)
dezembro 11, 2009
«Não tenho sentimento nenhum político ou social.
Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriótico.
Minha pátria é a língua portuguesa.
Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal,
desde que não me incomodassem pessoalmente.
Mas odeio, com ódio verdadeiro, com o único ódio que sinto,
não quem escreve mal português, não quem não sabe sintaxe,
não quem escreve com ortografia simplificada,
mas a página mal escrita, como pessoa própria,
a sintaxe errada, como gente em que se bata,
a ortografia sem ípsilon, como o escarro directo
que me enoja independentemente de quem o cuspisse.
Sim, porque a ortografia também é gente.
A palavra é completa vista e ouvida.
E a gala da transliteração greco-romana
veste-ma do seu vero manto régio,
pelo qual é senhora e rainha.»
Bernardo Soares, Livro do Desassossego,
Assírio & Alvim, ed. Richard Zenith,
Lisboa 1998, #259.
dezembro 10, 2009
Coração! Esquecê-lo-emos!
Tu e eu – esta noite!
Tu poderás esquecer o calor que nos deu –
Eu esquecerei a luz!
Quando o tiveres feito, peço-te que me digas
Para que eu possa recomeçar!
Apressa-te! Senão, enquanto te demoras
Lembrá-lo-ei!
------ // ------
Heart! We will forget him!
You and I – tonight!
You may forget the warmth he gave –
I will forget the light!
When you have done, pray tell me
That I may straight begin!
Haste! Lest while you're lagging
I remember him!
Emily Dickinson (1830-86), Poemas
Trad. Nuno Júdice, Ed. Cotovia, Lisboa, 2000
dezembro 09, 2009
Pois meus olhos não deixam de chorar
Tristezas que não cansam de cansar-me
Pois não abranda o fogo em que abrasar-me
Pode quem eu jamais pude abrandar
Não canse o cego amor de me guiar
A parte donde não saiba tornar-me
Nem deixe o mundo todo de escutar-me
Enquanto me a voz fraca não deixar
E se em montes, em rios, ou em vales
Piedade mora ou dentro mora amor
Em feras, aves, plantas, pedras, águas
Ouçam a longa história de meus males
E curem sua dor com minha dor
Que grandes mágoas podem curar mágoas
Ana Moura canta Camões
dezembro 08, 2009
dezembro 07, 2009
dezembro 06, 2009
Denis, M., La dormeuse ou jeune fille endormie (1892)
imagem in Branco no Branco
«O silêncio brilha acariciado.»
Eugénio de Andrade,
As nascentes da ternura,
in "Ostinato Rigore"
dezembro 05, 2009
Na pré-adolescência
do tempo de Salazar,
Sabe-se lá,
Frederico Valério,
Silva Tavares,
Amália Rodrigues
Lá porque ando em baixo agora
Não me neguem vossa estima
Que os alcatruzes da nora
Quando chora
Não andam sempre por cima
Rir da gente ninguém pode
Se o azar nos amofina
E se Deus não nos acode
Não há roda que mais rode
Do que a roda da má sina.
Sabe-se lá
Quando a sorte é boa ou má
Sabe-se lá
Amanhã o que virá
Breve desfaz - se
Uma vida honrada e boa
Ninguém sabe, quando nasce
Pró que nasce uma pessoa.
O preciso é ser-se forte
Ser-se forte e não ter medo
Eis porque às vezes a sorte
Como a morte
Chega sempre tarde ou cedo
Ninguém foge ao seu destino
Nem para o que está guardado
Pois por um condão divino
Há quem nasça pequenino
Pr'a cumprir um grande fado.
do tempo de Salazar,
Sabe-se lá,
Frederico Valério,
Silva Tavares,
Amália Rodrigues
Lá porque ando em baixo agora
Não me neguem vossa estima
Que os alcatruzes da nora
Quando chora
Não andam sempre por cima
Rir da gente ninguém pode
Se o azar nos amofina
E se Deus não nos acode
Não há roda que mais rode
Do que a roda da má sina.
Sabe-se lá
Quando a sorte é boa ou má
Sabe-se lá
Amanhã o que virá
Breve desfaz - se
Uma vida honrada e boa
Ninguém sabe, quando nasce
Pró que nasce uma pessoa.
O preciso é ser-se forte
Ser-se forte e não ter medo
Eis porque às vezes a sorte
Como a morte
Chega sempre tarde ou cedo
Ninguém foge ao seu destino
Nem para o que está guardado
Pois por um condão divino
Há quem nasça pequenino
Pr'a cumprir um grande fado.
dezembro 04, 2009
dezembro 03, 2009
dezembro 02, 2009
«Tive sempre uma repugnância física pelas coisas secretas
— intrigas, diplomacia, sociedades secretas, ocultismo.
Sobretudo me incomodaram sempre estas duas últimas coisas
— a pretensão, que têm certos homens, de que, por entendimentos
com Deuses ou Mestres ou Demiurgos, sabem — lá entre eles,
exclusos todos nós outros — os grandes segredos
que são os caboucos do mundo.
Não posso crer que isso seja assim.
Posso crer que alguém o julgue assim.
Por que não estará essa gente toda doida, ou iludida?
Por serem vários? Mas há alucinações colectivas.
O que sobretudo me impressiona,
nesses mestres e sabedores do invisível,
é que, quando escrevem para nos contar
ou sugerir os seus mistérios,
escrevem todos mal.
Ofende-me o entendimento
que um homem seja capaz de dominar o Diabo
e não seja capaz de dominar a língua portuguesa.
Por que há o comércio com os demónios
ser mais fácil que o comércio com a gramática?»
Bernardo Soares
— intrigas, diplomacia, sociedades secretas, ocultismo.
Sobretudo me incomodaram sempre estas duas últimas coisas
— a pretensão, que têm certos homens, de que, por entendimentos
com Deuses ou Mestres ou Demiurgos, sabem — lá entre eles,
exclusos todos nós outros — os grandes segredos
que são os caboucos do mundo.
Não posso crer que isso seja assim.
Posso crer que alguém o julgue assim.
Por que não estará essa gente toda doida, ou iludida?
Por serem vários? Mas há alucinações colectivas.
O que sobretudo me impressiona,
nesses mestres e sabedores do invisível,
é que, quando escrevem para nos contar
ou sugerir os seus mistérios,
escrevem todos mal.
Ofende-me o entendimento
que um homem seja capaz de dominar o Diabo
e não seja capaz de dominar a língua portuguesa.
Por que há o comércio com os demónios
ser mais fácil que o comércio com a gramática?»
Bernardo Soares
dezembro 01, 2009
«Era uma vez uma ausência
que andava em missão de viagem.
Quando chegava a uma encruzilhada
dava três voltas sobre si própria
para perder por completo
a noção do caminho
por onde viera
atingindo assim com regularidade
as regiões efémeras do esquecimento.
Depois regressava a casa.»
:))
ana hatherly, 463 tisanas,
Quimera, 2006, #72