«Tive sempre uma repugnância física pelas coisas secretas
— intrigas, diplomacia, sociedades secretas, ocultismo.
Sobretudo me incomodaram sempre estas duas últimas coisas
— a pretensão, que têm certos homens, de que, por entendimentos
com Deuses ou Mestres ou Demiurgos, sabem — lá entre eles,
exclusos todos nós outros — os grandes segredos
que são os caboucos do mundo.
Não posso crer que isso seja assim.
Posso crer que alguém o julgue assim.
Por que não estará essa gente toda doida, ou iludida?
Por serem vários? Mas há alucinações colectivas.
O que sobretudo me impressiona,
nesses mestres e sabedores do invisível,
é que, quando escrevem para nos contar
ou sugerir os seus mistérios,
escrevem todos mal.
Ofende-me o entendimento
que um homem seja capaz de dominar o Diabo
e não seja capaz de dominar a língua portuguesa.
Por que há o comércio com os demónios
ser mais fácil que o comércio com a gramática?»
Bernardo Soares
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