(Gaia Ciência, Livro III, § 112)
outubro 31, 2009
(Gaia Ciência, Livro III, § 112)
outubro 30, 2009
Diebenkorn, R.Untitled
(Reclining nude, right arm raised)
(1965) in Branco no Branco
«Pensamento medieval: quantos anjos podem caber
em cima da cabeça de um alfinete? E quantos
em cima da minha cabeça?
E o que é que isso interessa?
O cosmos é vagaroso e eu
estou presa do lado de fora das grades.»
Ana Hatherly, Tisana #432
outubro 29, 2009
este blog "just perfect",
como a Catharsis
o qualificou :):
As causas
Todas as gerações e os poemas.
Os dias e nenhum foi o primeiro.
A frescura da água na garganta
De Adão. O ordenado Paraíso.
O olho decifrando a maior treva.
O amor dos lobos ao raiar da alba.
A palavra. O hexâmetro. Os espelhos.
A Torre de Babel e a soberba.
A lua que os Caldeus observaram.
As areias inúmeras do Ganges.
Chuang Tzu e a borboleta que o sonhou.
As maçãs feitas de ouro que há nas ilhas.
Os passos do errante labirinto.
O infinito linho de Penélope.
O tempo circular, o dos estóicos.
A moeda na boca de quem morre.
O peso de uma espada na balança.
Cada vã gota de água na clepsidra.
As águias e os fastos, as legiões.
Na manhã de Farsália Júlio César.
A penumbra das cruzes sobre a terra.
O xadrez e a álgebra dos Persas.
Os vestígios das longas migrações.
A conquista de reinos pela espada.
A bússola incessante. O mar aberto.
O eco do relógio na memória.
O rei que pelo gume é justiçado.
O incalculável pó que foi exércitos.
A voz do rouxinol da Dinamarca.
A escrupulosa linha do calígrafo.
O rosto do suicida visto ao espelho.
O ás do batoteiro. O ávido ouro.
As formas de uma nuvem no deserto.
Cada arabesco do caleidoscópio.
Cada remorso e também cada lágrima
Foram precisas todas essas coisas
Para que um dia as nossas mãos se unissem.
Jorge Luís Borges, História da noite,
in Obras Completas, Vol. III,
Círculo de Leitores,
Lisboa, 1998, p. 203
outubro 28, 2009
que consegui perceber, na sua
tão subtil sensualidade:
.........................SUBJACENTE
O instante em que se torna incompreensível não ouvir a
...............................................chuva semelhante
ao tom humano instrumentos que são as vozes autênticas
em que contornas debaixo do flanco e da espádua sobre
...........................................................madeira
subjacente a minha forma. O que eu ouvi era apenas a epiderme
junto à raiz das tábuas que me sustinha que provém
.................................................constantemente
da árvore assim como súplica e êxtase do amor paralelo
a um início no mundo inaudível. Se me disseres para além
.......................................................do pavimento
do tecto ouvirmos uma voz infantil eu afasto o tímpano de um
................................................................berço
porque a atenção rigorosa se esquiva aos sons de que duvido
se fixa no centro da passagem do corpo ao longo de todo
.......................................................o espírito
como uma consciência pelo interior da sua inconsciência
........................................................ tornada
vibrante e inacessível às lágrimas aos ruídos excedentes.
A parte mais próxima do corpo próximo é idêntica ao meu
.....................................................corpo rodeado
de significações e da convenção dos sentidos habituais
que o meu desconhecimento transforma em inverosimilhança.
O artifício da chuva o brado de uma silhueta distanciando-se
de uma criança puderam logo ser reconstituidos depois do
................................................tempo atravessar
a extensão de pólo a pólo do meu corpo subjacente.
fiama hasse pais brandão
:)
Estou deveras contente e feliz
por a 'minha' estimada leitora
do blog Catharsis ter atribuído
a este modesto acervo de leituras
o prémio de blog "Just Perfect"!
Lamento não poder prosseguir
a cadeia apreciativa de blogs
porque ainda estou muito ignorante :(,
mas logo que consiga fá-lo-ei com muito gosto :)
outubro 27, 2009
"A Jóia"
«Ela refulge. Essa ela sem igual.
Ela é sempre única. E tem sagrada cólera.
Mas quando é colar de pérolas
brilha macia como uma piedade de Ave-Maria.
Colar de pérolas precisa de estar em contacto
com a pele da gente para receber nosso calor.
Senão fenece.
Uma, duas, três, sete,
quantos ovos peroláceos de madrepérola?
E termina com um delicadíssimo fecho
de brilhantes engastados em ouro branco.»
Clarice Lispector, Um sopro de vida,
cit. in Carlos Mendes de Sousa,
Clarice Lispector - Figuras da Escrita,
Centro de Estudos Humanísticos,
Universidade do Minho,
Braga, 2000, p.143
outubro 26, 2009
Recebi o Selinho do Divã da Grande Jóia!
Fiquei contente, pois se lembrou de mim.
Mas esta obrigação de agora me deitar nele,
embaraça-me posto que o que diga será
diferente do que poderia dizer!...
As regras são as seguintes:
1. Postar o Selo - Está feito.
2. Dizer quem me indicou- Grande Jóia.
3. Escrever três conflitos que me levaram ao Divã - Ei-los:
— Só no meu próprio divã me deito; o único contacto tido com um psicólogo,
há muitos anos, redundou num insucesso absoluto, por o especialista me
ter achado muito esperto, mas não o suficiente para o convencer! E, assim, acabou a terapia! Digamos, até: — esse foi o meu primeiro caso de divã!
— Outro caso: a net! A primeira vez que nela interagi, apaixonei-me! Felizmente, por pessoa amiga menos enamorada do que eu. De modo que tudo correu bem. Aprendi a lição: paixão, só na realidade; não, na net. :)
— Último caso: dou comigo a pensar que a net rouba-me mais tempo
do que devia… É verdade, é um estímulo a ler, a pensar;
mas melhor seria se se-originasse na vida social
em vez de neste espaço dessensualizado…
4. Passar o selinho a seis amigos…? Não posso, não tenho coragem. Talvez um dia… :)
outubro 25, 2009
(Gaia Ciência, Livro III, § 111)
outubro 24, 2009
(Gaia Ciência, Livro III, § 110)
outubro 14, 2009
(Gaia Ciência, Livro III, § 109)
outubro 13, 2009
outubro 12, 2009
PERFUME DA ROSA
Quem bebe, rosa, o perfume
Que de teu seio respira?
Um anjo, um silfo? Ou que nume
Com esse aroma delira?
Qual é o deus que, namorado,
De seu trono te ajoelha,
E nesse néctar encantado
Bebe oculto, humilde abelha?
- Ninguém? – Mentiste: essa frente
Em languidez inclinada,
Quem ta pôs assim pendente?
Dize, rosa namorada.
E a cor de púrpura viva
Como assim te desmaiou?
E essa palidez lasciva
Nas folhas quem ta pintou?
Os espinhos que tão duros
Tinhas na rama lustrosa,
Com que magos esconjuros
Tos desarmaram, ó rosa?
E porquê, na hástia sentida
Tremes tanto ao pôr do Sol?
Porque escutas tão rendida
O canto do rouxinol?
Que eu não ouvi um suspiro
Sussurrar-te na folhagem?
Nas águas desse retiro
Não espreitei a tua imagem?
Não a vi aflita, ansiada…
- Era de prazer ou de dor?
- Mentiste, rosa, és amada,
E tu também amas, flor.
Mas ai!, se não for um nume
O que em teu seio delira,
Há-de matá-lo o perfume
Que nesse aroma respira.
Almeida Garrett, Folhas Caídas
outubro 11, 2009
O Fado nasceu um dia,
quando o vento mal bulia
e o céu o mar prolongava,
na amurada dum veleiro,
no peito dum marinheiro
que, estando triste, cantava,
que, estando triste, cantava.
Ai, que lindeza tamanha,
meu chão , meu monte, meu vale,
de folhas, flores, frutas de oiro,
vê se vês terras de Espanha,
areias de Portugal,
olhar ceguinho de choro.
Na boca dum marinheiro
do frágil barco veleiro,
morrendo a canção magoada,
diz o pungir dos desejos
do lábio a queimar de beijos
que beija o ar, e mais nada,
que beija o ar, e mais nada.
Mãe, adeus. Adeus, Maria.
Guarda bem no teu sentido
que aqui te faço uma jura:
que ou te levo à sacristia,
ou foi Deus que foi servido
dar-me no mar sepultura.
Ora eis que embora outro dia,
quando o vento nem bulia
e o céu o mar prolongava,
à proa de outro veleiro
velava outro marinheiro
que, estando triste, cantava,
que, estando triste, cantava.