outubro 24, 2009

Origem do conhecimento. — Durante longos séculos, o intelecto nunca engendrou mais do que erros; alguns mostravam-se úteis à conservação da espécie: quem os encontrava ( ) lutava com mais felicidade por si e pela sua descedência. Esses artigos de fé errados, transmitidos hereditáriamente através de gerações, acabaram por se tornar numa espécie de ( ) fundo humano: admite-se, por exemplo, que há coisas que são iguais, que existem objectos, matérias e corpos, que uma coisa é o que parece ser, que a nossa vontade é livre, que aquilo que é bom para um é bom em si. Só muito tardiamente é que apareceram pessoas que negaram ou puseram em dúvida este género de proposições, só muito tardiamente surgiu a verdade, esta forma menos eficaz das formas de conhecimento. ( ) A partir de então a fé, a convicção, deixaram de ser as únicas forças, mas também o exame, a negação, a contradição; todos os «maus» instintos foram subordinados ao conhecimento e postos ao seu serviço; ( ) O conhecimento, a partir de então, tornou-se uma parte da própria vida, e, tal como a vida, uma força que foi crescendo sem detença; ( ) O pensador: eis agora o ser no qual a necessidade da verdade e os erros antigos que mantêm a vida, se dão o seu primeiro combate desde que a necessidade da verdade se afirmou também como uma força que conserva a vida. Dada a importância desta luta tudo o mais é indiferente: ela enuncia a última pergunta sobre a condição da vida, e faz a primeira tentativa para lhe responder com a experiência. Até que ponto a verdade suporta a assimilação? tal é esta pergunta, tal é esta experiência.

(Gaia Ciência, Livro III, § 110)

2 comentários:

Ana Paula Sena disse...

Olá, Vasco :))

Tens um prémio, para inaugurar o regresso!

Um abraço.

vbm disse...

:))

Obrigado, Ana.
Editá-lo-ei.

beijos,
vasco