«Os espartanos mais sensatos, [ ] receando o poder do dinheiro que tinha conseguido corromper um dos seus cidadãos mais apreciados, censuraram asperamente Lisandro e declararam aos éforos que deviam fazer sair de Esparta, quanto antes, todo o ouro e toda a prata que ele para lá tinha enviado, como moléstia sedutora e, por isso mesmo, ainda mais perigosa.
[ ] Flógidas [ ] foi o primeiro a opinar que se não recebesse nenhuma moeda de ouro ou de prata, conservando-se apenas a do país. [ ]
Os amigos de Lisandro opuseram-se ao decreto e conseguiram fazer aprovar que a prata ficasse em Esparta, mas a que estava convertida em moedas só teria curso para negócios públicos e seria condenado à morte todo o particular que as tivesse: como se Licurgo receasse as moedas de ouro ou prata e não a avareza que elas trazem atrás de si.
Era muito menos prevenir esta paixão, proibindo aos particulares terem moedas de ouro ou de prata, do que excitar o desejo de as possuirem, desde que se autorizava a cidade a fazer uso delas: a comodidade que elas representavam dava-lhes mais valor e fazia-as mais desejadas.
Seria possível, com efeito, que os particulares as desprezassem como inúteis, quando eram publicamente apreciadas? Poderia cada espartano deixar de atribuir valor, nos seus negócios, ao que ele via ser tão estimado e tão procurado pelos negócios públicos? [ ]
É certo que os éforos, para impedirem que a prata amoedada andasse nas mãos dos cidadãos puseram de sentinela o temor da lei, mas não lhes cerravam a alma à admiração e ao desejo de riquezas; pelo contrário, fazendo-as considerá-las uma propriedade tão preciosa quanto honrosa, excitaram neles a mais violenta paixão.»
Plutarco, Lisandro e a supremacia de Esparta,
Lisboa, Editorial Inquérito, p.41-3