«A mãe de Cícero chamava-se Hélvia; era duma família distinta e manteve, pela sua conduta, a nobreza da sua origem. Sobre a condição de seu pai há opiniões muito diferentes: pretendem uns que ele nasceu e foi criado na oficina de um pisoeiro; outros fazem-no descender de Tulo Átio que reinou tão gloriosamente sobre os volscos e lutou com êxito contra os romanos.
O primeiro desta família que teve o sobrenome de Cícero parece ter sido um homem respeitável; por isso os seus descendentes, longe de desprezarem o apelido, orgulharam-se de o usar, embora fosse muitas vezes ridicularizado. Deriva de uma palavra latina que significa «grão-de-bico»; e o primeiro a quem foi dado esse nome tinha na ponta do nariz uma excrescência que parecia um grão-de-bico, o que lhe valeu o anexim.
Cícero, aquele cuja vida escrevemos, quando pretendeu pela primeira vez um cargo e se ocupou dos negócios públicos, foi aconselhado pelos amigos a abandonar este apelido e a tomar outro; mas respondeu-lhes, com a presunção dum jovem, que procederia de modo a tornar o nome de Cícero mais célebre que os dos Escauros e dos Catulos.
Durante a sua questura na Sicília, ofereceu aos deuses umvaso de prata em que mandou gravar por extenso os seus dois primeiros nomes: Marco Túlio; e, em vez do terceiro, quis, por pilhéria, que o gravador pusesse um grão-de-bico. Eis o que se conta a respeito do seu nome.»
Plutarco, Cícero e a queda da república patrícia,
Lisboa, Editorial Inquérito, s/d, p.7-8
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