dezembro 13, 2012


«O país, embora por vezes apresente um aspecto diferente, é em geral eriçado de florestas e cortado por horríveis pântanos, mais húmido do lado das Gálias, mais batido pelos ventos do lado em que a Germânia defronta quer o Nórdico, quer a Panónia. O solo, fértil em grão, recusa-se à cultura das árvores de fruto. O gado abunda, mas é quase sempre de pequena estatura, e mesmo os animais de trabalho não têm a corpulência dos nossos. Os germanos sentem-se orgulhosos por os possuírem em grande número; é a sua única riqueza, é o bem que mais estimam. Os deuses — Seria por bondade? Seria por cólera? Não me pronuncio — negaram-lhes a prata e o ouro; eu não ousaria contudo afirmar que na Germânia nenhuma mina exista que produza ouro ou prata; quem poderá ter a certeza disso? São menos sensíveis do que nós aos atractivos da posse ou do uso destes metais. Podem ver-se entre eles vasos de prata oferecidos como presentes aos seus embaixadores e aos seus chefes; não fazem mais caso deles do que se fossem de barro. Contudo, os que habitam mais próximos de nós apreciam para as transacções comerciais o emprego do oiro e da prata e conhecem certos tipos da nossa moeda, aos quais dão a sua preferência; os do interior, mais fiéis à antiga simplicidade, traficam por meio de trocas. Os outros gostam sobretudo das nossas moedas antigas e há muito conhecidas, aquelas cuja borda é dentada em forma de serra e que têm a efígie dum carro puxado por dois cavalos; mostram também mais gosto pela prata do que pelo oiro, não em consequência de qualquer predilecção, mas porque as moedas de prata são de um uso mais cómodo para homens que só compram objectos comuns e de pouco valor.»

Tácito, A Germânia,
Lisboa, Ed. Inquérito, Lda, pp.12-3

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