«Dizendo estas palavras, retirou-se para o interior do templo e, pegando nas suas tabuinhas enceradas, como se fosse escrever, levou o estilete à boca e mordeu-o, o que costumava fazer quando pensava ou compunha algum discurso. Passado algum tempo, cobriu-se com o manto e deitou a cabeça. Os soldados que estavam à porta do templo riam-se dele por temer tanto a morte e chamavam-lhe cobarde e medroso.
Árquias, aproximando-se dele, incitava-o a levantar-se [ ]. Demóstenes, sentindo que o veneno produzira o seu efeito, descobriu-se e, fixando os olhos em Árquias, disse-lhe:
— Podes desempenhar agora o papel de Creonte na tragédia e lançar este corpo onde quiseres, sem lhe concederes as honras da sepultura. Oh Poseidon! saio ainda vivo do teu templo, mas nem por isso Antípatro e os macedónios o deixaram de profanar com a minha morte.
Mal acabou de pronunciar estas palavras, sentiu-se tremer e cambalear; pediu que o amparassem para andar, e, quando passava em frente do altar do deus, caiu e morreu soltando um profundo suspiro.»
Plutarco, Demóstenes e a supremacia da Macedónia,
Lisboa, Editorial Inquérito, pp. 68-9
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