«Todos que passavam à minha beira iam cheios de uma
linguagem tão íntima, tão pessoal, tão intransmissível, que por mais esforços
das autoridades, nada se apurava do pensamento momentâneo de cada um.
Eu ouvia as ondas curtas de outros países, com ligeiros
ruídos locais, e admirava-me como havia pessoas que tinham paciência para
ouvirem diariamente ondas curtas.
São pessoas que percebem meia coisa ou lhes basta para
viverem meia palavra. Ouvem mais os ruídos do que os sons e alegram-se a roer
apenas a superfície da etimologia.
Fiquei apenas com o meu nome próprio e deixei de ter o
apelido, assim podia considerar-me ténue fio de existência perante a exigência
dos outros.
Ruben A., O Outro Que Era Eu (1966),
Assírio & Alvim, Lisboa,
1991, p.106.
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