setembro 27, 2013

Honoré de Balzac



«Cada vez que Helena podia avistar o pai,
agitava o lenço para o saudar mais uma vez.

Em breve o Saint-Ferdinand se afundou,
produzindo um borbulhar imediatamente
apagado pelo oceano.

Nada mais ficou então de toda aquela cena
senão uma nuvem baloiçada pela brisa;
a nuvem interpôs-se entre esta frágil
embarcação e o brigue.

A última vez que o general avistou a filha
foi através de uma abertura daquele
fumo ondulante.

Visão profética!

O lenço branco, o vestido destacava-se
sozinho naquele fundo de bistre.

Entre a água verde e o céu azul,
o brigue já nem se via, Helena não
era mais que um ponto imperceptível,
uma linha desligada, graciosa, um anjo
no céu, uma ideia, uma recordação.

Honoré de Balzac, A Mulher de Trinta Anos,
(«La Femme de Trente Ans», 1844), Trad.
Paula Reis, Livraria Civilização Editora,
Porto, 1978, p.500-1



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