setembro 25, 2013

Honoré de Balzac

«Não se encontram muitos homens cuja profunda nulidade é um profundo segredo para a maior parte das pessoas que os conhecem? Uma posição elevada, um nascimento ilustre, funções importantes, um certo verniz de educação, uma grande reserva no comportamento, ou os sortilégios da fortuna são, para eles, como guardas que impedem as críticas de penetrar na sua existência íntima. [ ] Essas pessoas por mérito fictício interrogam em vez de falar, têm a arte de pôr os outros em evidência para evitarem apresentar-se a si próprios diante deles; depois, com uma feliz sagacidade, eles puxam cada pessoa pelo fio das suas paixões ou por os dos seus interesses, e jogam assim homens que lhes são realmente superiores, fazem deles marionetas: e crêem-nos pequenos terem rebaixado até eles. Obtêm então o triunfo natural de um pensamento mesquinho, mas fixo, sobre a mobilidade dos grandes pensamentos. Assim, para julgar estas cabeças ocas e pesar os seus valores negativos, o observador deve possuir um espírito mais subtil que superior, mais paciência que alcance de vista, mais sagacidade e tacto que elevação e grandeza de ideias. Apesar dssio, por mais habilidade que manifestem estes usurpadores a defender os seus lados fracos, é-lhes muito difícil enganar as suas mulheres, as suas mães, os seus filhos ou o amigo da casa; mas estas pessoas guardam-lhes quase sempre o segredo duma coisa que toca, de certa maneira, a honra comum; e muitas vezes mesmo elas ajudam-nos a impor-se ao mundo. Se, graças a estas conspirações domésticas, muitos tolos passam por homens superiores, eles compensam o número de homens superiores que passam por tolos, de maneira que o Estado Social tem sempre a mesma quantidade de capacidades aparentes.»    


Honoré de Balzac, A Mulher de Trinta Anos,
(«La Femme de Trente Ans», 1844), Trad.
Paula Reis, Livraria Civilização Editora,
Porto, 1978, p.405

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