setembro 29, 2013


Aqui responde-se a tudo
numa língua primordial e nobre
tal como uma parte da vida responde
à indestrutível parte contígua

aqui nas frisadas extremidades
dos ramos do jardim apaziguado
não buscamos os horrendos grumes da seiva
que se assemelham às silhuetas afligidas
que abraçam um crucificado na noite da desgraça

e não conhecemos palavra ou sinal
que seja mais alto que qualquer outro
é aqui que vivemos aqui que somos belos

e é aqui que ao calar-nos perturbamos o real
mas se os nossos adeuses a ele são rudes
a vida também participa nisto
como se em si
uma notícia que nos é inaudível

e apartando-se de nós
como o reflexo dum arbusto na água
ficará mesmo ao lado
para em seguida ocupar
o nosso lugar

para que os espaços dos homens não sejam substituídos
senão por espaços de vida
para todo o sempre.


Aïgui, poema Aqui, «um canto à glória do que
daqui é insubstituível e sem garantia divina»,
da tradução francesa de León Robel,
inserto em

Alain Badiou, Breve Tratado de Ontologia Transitória,
(«Court Traité d’Ontologie Transitoire», 1998),
Trad. Alexandre Emílio, Ed. Instituto Piaget,
Colecção Pensamento e Filosofia, nº 54, Lisboa, 1999

Curiosa, mas não estranhamente, imagino, este poema, de um poeta do rio Volga, lembra a ontologia do ser temporal de José Reis, o professor catedrático de Coimbra, autor da Nova Filosofia, e de Sobre o Tempo, ambos editados pela Afrontamento, Porto, 1991 e 2007, respectivamente, como a do múltiplo da ontologia matemática de Alain Badiou.

Livros sérios a ler, reler e reflectir. 

Sem comentários: