«— Não se podem nem devem chamar armadilhas — disse D. Quixote — aos meios usados para alcançar virtuosos fins.
E que o de casar-se os enamorados era o objectivo de maior grandeza, salientando que o maior inimigo que o amor tem é a fome e contínua necessidade, porque o amor é todo alegria, regozijo e contentamento, e mais quando o amante possui a coisa amada, contra a qual são inimigos que se lhe opõem de modo evidente a necessidade e a pobreza;
e que tudo isto D. Quixote dizia para o senhor Basílio não voltar a empregar as manhas que sabe, que, embora lhe dessem fama, não lhe davam dinheiro, e que se preocupasse em conseguir bens por meios lícitos e sagazes, que nunca faltam aos prudentes e trabalhadores.»
Miguel Cervantes, O Engenhoso Fidalgo
D. Quixote de la Mancha, («Il Ingenioso
Hidalgo D. Quixote de La Mancha», 1605)
Trad. e notas de José Bento, Gravuras
de Lima de Freitas, Relógio d’Água,
Lisboa, 2005, p. 613.
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