«A arte de administrar uma casa e a de administraruma pólis diferem entre si não apenas na medida em que a casa e a pólis também diferem (uma vez que aquela é o fundamento desta), mas ainda no facto de a administraçãoda pólis envolver muitos governantes e de a administração doméstica depender somente de um.
Ora acontece que algumas das artes se distinguem claramente, pelo que não se enquadra na mesma arte produzir determinado artefacto ou fazer uso dele, conforme sucede com a lira e as flautas; no entanto, a arte política tanto se ocupa da constituição da pólis desde o início, como zela também pelo seu bom funcionamento, depois de estar já instituída. É evidente que a função da arte económica há-de consistir igualmente em estabelecer a casa e também em fazer uso dela.
A pólis resulta, por conseguinte, de um agregado constituído por casas, terras e bens, que seja auto-suficiente e capaz de garantir o bem-estar. Esta realidade afigura-se evidente, pois, quando as pessoas não se mostram capazes de aquele objectivo, a comunidade acaba por dissolver-se. De resto, é por este motivo que os homens vivem em sociedade; a razão pela qual cada coisa existe e foi criada representa a essência de si mesma. Por aqui se torna claro que a origem da administração da casa é anterior à administração da pólis; e o mesmo se diga da sua função, pois a casa é uma parte da pólis. Temos, portanto, de examinar a arte da economia e a natureza da respectiva função.»
Aristóteles, Os Económicos, Introd., notas
e trad. de Delfim Ferreira Leão, INCM,
Lisboa, 2004, 1343a 1.
Sem comentários:
Enviar um comentário