outubro 23, 2012


(continuação 18)

«A aptidão para filosofar evidencia-se naqueles espíritos que, a propósito de tudo, se interrogam sobre as possíveis relações entre dois termos distantes. [ ] Não se aquieta o espírito filosófico perante a resposta negativa da ciência ou da ignorância. Ele aposta, postula ou jura que uma incógnita relação existe, enquanto espera pacientemente o momento de vê-la acrescentada ao quadro das funções intelectivas, ou efectivamente descoberta na realidade. [ ]

Em vez da disjunção dialéctica, a filosofia adopta a conjunção silogística, aproximando, associando, unindo dois termos que à primeira vista pareciam estranhos e, mais ainda, incompatíveis, quer dizer, incapazes de paixão e de acção.

Aludimos já, noutro lugar, à função da experiência na metodologia de Aristóteles. A união dos corpos, das imagens e dos conceitos, quando geratriz de um novo ser, representa adequadamente o que Aristóteles designou pela primeira vez por silogismo.

No primeiro dos livros analíticos, e também no primeiro livro de tópicos, Aristóteles define o silogismo em termos de posição e composição, ou sejam de tese e síntese, sem intermediário. A virtude criadora do intelecto activo depende do princípio de finalidade.

Enquadrada nas disciplinas triviais, na gramática, na retórica e na dialéctica, esta definição do silogismo esclarece-se pela distinção das duas premissas e pelas virtudes dos conceitos. A necessidade da conclusão não resulta da intervenção de um elemento exterior.

Distingue depois Aristóteles duas espécies de silogismos: aqueles que resultam de proposições acerca das quais não temos certeza, mas que servem para exercício dialéctico, retórico ou gramático, e aqueles cujas premissas já comprovadas, ou tidas por verdadeiras, concluem necessariamente a modo de demonstração científica.»

(continua)


Álvaro Ribeiro, Estudos Gerais,
Lisboa, Guimarães Editores, 1961, pp.117-8.

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