outubro 19, 2012
(continuação 17)
«Fácil será ver, pelo estudo da história da filosofia moderna e contemporânea, que os quadros de categorias se restringem ao modo indicativo, tornando presente, fixo e eterno o verbo expressivo dos conceitos puros da ciência e dos métodos admitidos pela epistemologia.
A verdade não é, porém, o único valor que o filósofo está a inserir mentalmente na realidade que o surpreende; o pensador exprime e comunica; também são valores a beleza e a bondade.
Admite o filósofo que os conceitos puros da ciência tenham prioridade sobre os conceitos impuros da estética e da ética, prioridade e até função significativa; mas nunca admitirá um racionalismo simplista ou abstractivista que condene o segundo e o terceiro valor como indignos de figurar no quadro dos processos gnósicos e, portanto, no quadrívio complementar do ensino trivial.
A beleza da palavra humana, a eloquência, está portanto incluída nos domínios de arte de filosofar. [ ] A eloquência é uma indagação que tem por fim apresentar sensivelmente o insensível. Tornar audível, pelo ritmo musical, uma realidade inefável, é já uma arte cujo artifício se estuda na fonética, na métrica e na versificação. A poesia actua, porém, com palavras de significação insensível mas, digamos, sensibilizada por virtude da imaginação.
A verdade da poesia surge, porém, de mais alta sintaxe. Umas imagens alegorizam outras [ ]. O pensador substitui a imagem do mundo sensível, sempre fugaz e evanescente, por outra imagem mais actual, que universaliza a primeira, ou então pelo verbo que lhe confere perene verdade.»
(continua)
Álvaro Ribeiro, Estudos Gerais,
Lisboa, Guimarães Editores, 1961, pp.113-5.
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