outubro 13, 2012


(continuação 15)

«A substância mineral, ou elementar, corresponde ao reino do silêncio, sem vida de natureza. Com a planta fixa e com o animal movente representam-se-nos as palavras distintas mas necessariamente obedientes às suas leis. A palavra, substância do discurso, na sua identidade pode significar uma coisa, uma imagem ou um conceito cujas determinações são apreendidas pelos processos já descritos de distinção entre as aparências e as essências.

Substante, a palavra é sujeito de predicados, epítetos e atributos. Predicado significa o já anteriormente dito, o já sabido, o já classificado, pelo que a predicação tende a cair no pleonasmo e na tautologia. É o regresso incessante da retórica à mnemónica e à memória. O epíteto adjunta ou adjectiva qualidades externas ou superficiais. O atributo acentua propriedades internas, incógnitas, remotas. A atribuição procede sem certeza, pelo que é muitas vezes comparada à hipótese, mas a adjectivação exalta com evidência graciosa. Estas três operações mentais de classificação, análise e síntese mantêm estante, estático ou estável o sujeito idêntico no fluir do discurso.

A palavra representativa da coisa, da imagem ou do conceito, quando dotada de mobilidade, poderá ser transferida de casa para casa, ao longo de graduados tópicos ou de categorias agrupadas num quadro mnemónico, para maior facilidade das operações intelectivas. [ ]

As inferências imediatas e mediatas da retórica implicavam a noção de conceito, sem que o substantivo perdesse a sua identidade. Não assim no trânsito categorial, porque a mudança de ambiente põe à prova, ou à experiência, a extensão e a compreensão do conceito; [ ].

A deslocação da palavra e o trânsito do conceito, ao longo de estados, estádios e estações, de frases, metamorfoses e ciclos, de casas, classes e graus, foram sempre valorados pelos observadores, mas pelo caminho, ou método categorial, que é crónico e lógico, o pensamento científico alcança mais concretas determinações.»


(continua)

Álvaro Ribeiro, Estudos Gerais,
Lisboa, Guimarães Editores, 1961, pp.107-8.

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