outubro 03, 2012



(continuação 11)

«A mais importante reforma do quadro das categorias, aquela que conseguiu pôr de lado a ordenação aristotélica e escolástica, foi levada a efeito por Immanuel Kant em consideração do sistema científico de Galileu, Kepler e Newton. [ ]

Depois de procurar cingir a estrutura universal do espírito humano nas obras que autores ingleses dedicaram ao mesmo escopo, nomeadamente Locke, Berkeley e Hume, concluiu Kant pela redução do espírito ao intelecto, cujas funções aparecem descritas nos conceitos puros que, por sua vez, se agrupam segundo quatro categorias.

Estas funções judicativas distinguem-se, portanto, das estruturas reais e dos objectos situados no mundo sensível. Para Kant, nem o espaço nem o tempo são categorias, como também não será categoria a substância.

O espírito humano atinge assim a sua quietação, não já numa dogmática de artigos de fé, que secretamente alimentem os anseios da alma, mas num quadro mnemónico, que transportará consigo para incentivar o progresso das ciências.

É fácil de reter a série descendente das quatro categorias: quantidade, qualidade, relação, modalidade, e fixar () a cada uma delas a tríade de conceitos puros, indispensáveis para objectivar as subjectivas intuições sensíveis.

Quantidade: Unidade / Pluralidade / Totalidade Qualidade: Realidade / Negação / Limitação
Relação: Substância / Causa / Reciprocidade
Modalidade: Possibilidade / Existência / Necessidade

Convém, no entanto, esclarecer que [o termo alemão begrieff significa realmente laço judicativo e não exactamente o termo conceito usado na tradução para várias línguas românicas que apela mais ao sentido semântico daquilo que foi concebido, o produto da mente, do mentar e até do mentir].

O [‘conceito’] de Kant («begrieff») não é um ente mental, dotado de extensão e de compreensão, mas um agrafe mnemónico indispensável à actividade que julga, reparte ou analisa os dados sensíveis, apresentações ou representações.»

(continua)

Álvaro Ribeiro, Estudos Gerais,
Lisboa, Guimarães Editores, 1961, pp.100-103.


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