setembro 13, 2012


(continuação 5)

«A gramática impôs à linguagem trivial e à linguagem filosófica a confusão frequente da substância com a matéria e com a essência, num engano de que mal se libertaram os escritores mais atentos à função do verbo.

Que subjaz e que subsiste tanto pode ser dito realmente de um objecto sensível e plasticamente figurado, como metaforicamente de uma essência inteligível que encarna apenas na palavra.

Na química elementar permutam-se como sinónimos as palavras matéria, substância e essência. A substância extensa e a substância pensante dos cartesianos mostram a que abismos foram conduzidos os pensadores que se afastaram da terminologia aristotélica, adulterada ao longo dos séculos pela tradução para latim ciceroniano ou tomista, e até para línguas modernas.

A gramática, a retórica e a dialéctica assentam, como vimos, em proposições segundo as quais o sujeito é singular, individual ou pessoal, porque são essas proposições as que se prestam aos juízos de valor que interessam em ética, moral e política.

Em alguns textos aristotélicos entende-se por substância o sujeito de qualquer proposição, e portanto uma palavra designativa de qualquer coisa, principalmente um substantivo.

A lógica, superior à gramática, à retórica e à dialéctica, é mais exigente de determinações mentais. Logicamente, a substância é o termo que permanece no decurso das operações intelectivas, e para que o discurso seja científico, é indispensável que a substância seja um conceito, como, por exemplo, a espécie e o género. A lógica realiza assim o indispensável afastamento do condicionalismo próprio das representações sensíveis.

(continua)

Álvaro Ribeiro, Estudos Gerais,
Lisboa, Guimarães Editores, 1961, pp.95

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