setembro 11, 2012


(continuação 3)

«Desenvolver ou despir será o processo mais fácil de criticar os objectos localizados ou situados no espaço, e a violência da desocultação entrou de há muito na prática científica de laboratório, segundo o método experimental.

A cirurgia incide sobre o corpo humano para descobrir anatomicamente e histologicamente os segredos dos órgãos e dos tecidos. Esse interrogatório manual, utensilial e instrumental progride cada vez mais, mas no seu progresso infinito não deixa de encontrar aparências sobre aparências, concretizadas na figuração sensível de imagens que a palavra trasladará para termos de operações intelectivas ou de formulários técnicos.

O espaço, e precisamente o local onde e de onde surge o movimento, não cinge nem situa o essencial. A acção que nele se figura continua a ser qualificada de aparente. O tempo presta-se mais ao discorrer significativo do que aparece e desaparece, ao trânsito de estação para estação, ou de estado para estado, não só porque exprime a naturalidade inexorável que predomina sobre a violência humana, mas também porque na expressão de fases, mutações e metamorfoses acompanha a modalidade do verbo.

A queda, o caso, o acaso, enfim, o acidental, demonstram intercadentemente a caducidade de tudo quanto é postiço, supérfluo e superficial. O jogo de fenómenos que dá prestígio ao espectáculo estético não ilude o pensador que indaga o estável, o estante ou o substante, isto é, o que está sob atributos, epítetos e predicados. [ ]

Ante a caducidade dos seres sensíveis, sujeitos à lei da geração e da corrupção, ao nascer e ao morrer, afirmou Aristóteles que só há ciência do geral. O homem, [ ] na sua singularidade indivisa, é um ente visível que como os outros também obedece à mesma lei que, com maior ou menor lentidão, faz desaparecer os corpos de entre os espectáculos que se representam no palco do mundo sensível.»

(continua)

Álvaro Ribeiro, Estudos Gerais,
Lisboa, Guimarães Editores, 1961, pp.91-93

Sem comentários: