img blog A Máxima
Quando rebenta a flor nova no
alpendre da casa, parte de mim
entrega-se a essa aparição. A mesma fuga
leva os insectos entre um ponto claro
e outro. As janelas foram escavadas
nas faces. Trepadeiras confusas
parecem muros. Estas visões evitam
que a casa se destrua. Sou o sujeito
que imagina o pensamento dessa figura
comparada a uma ruína.
A que floresce com o vulto da primavera
há-de deteriorar-se na penumbra
que vai ruir. Terá a vida própria
de um conceito. A porta que dá para o caos.
Enquanto vivo gozo a aparência
de cachos de glícinias roxas
enroscadas nas colunas sem matéria.
Na casa transparente a metade translúcida
aumenta esse esplendor em silêncio.
A que se fundamenta na existência
da minha mesma parte ausente.
Que é uma gruta. Em cima
volteiam mariposas por dentro de um vapor.
O hálito da garganta que a abertura
da janela expele do interior de um halo.
(fiama hasse pais brandão)
Img blog Cleopatra Moon
abril 26, 2012
abril 20, 2012
Canto da Sombra
Ao Sol cada tronco cai em sombra
e, no chão, a floresta ou o pomar
mostram o duplo real que nos enfrenta.
Passamos sobre sombras entre as árvores
atentos ao desenho singular,
que não pisamos, dos intervalos da luz.
Passamos entre sombras e não lançamos
os braços em redor de cada árvore,
ávidos da suave escuridão pisamos
os troncos que tombaram junto à sombra.
Se vou ao pomar das árvores cítricas
recolher o fruto que nos dá o aroma,
aí, ao lado de cada tronco, eu vejo
a umbela de sombra que me impele
para o desejo desse fruto duplo.
E a memória retém o objecto e o Outro,
tronco de choupo ou copa de limoeiro;
conhecermo-nos, como diz Sócrates,
é conhecermo-nos no Outro quem nós somos.
A sombra serve ao Canteiro para o traço
da infinita recta, que se torna curva
e lhe dá a forma ideal que reúne
o recto e o curvo, o perto e o além.
No frontão do Pórtico inscreveu
na medida da sombra a esfera do Sol.
Cada dia temos as mínimas sombras
de tudo o que recolhe a mão,
e as nossas casas jazem diante de si mesmas
e vão rodando no seu eixo de sombra.
O cone escuro da nossa própria Terra
escurece a luz do luar branco.
Na geometria dos vultos planetários
por fim ficamos, na escurecida Terra,
predizendo o sentido do futuro.
e, no chão, a floresta ou o pomar
mostram o duplo real que nos enfrenta.
Passamos sobre sombras entre as árvores
atentos ao desenho singular,
que não pisamos, dos intervalos da luz.
Passamos entre sombras e não lançamos
os braços em redor de cada árvore,
ávidos da suave escuridão pisamos
os troncos que tombaram junto à sombra.
Se vou ao pomar das árvores cítricas
recolher o fruto que nos dá o aroma,
aí, ao lado de cada tronco, eu vejo
a umbela de sombra que me impele
para o desejo desse fruto duplo.
E a memória retém o objecto e o Outro,
tronco de choupo ou copa de limoeiro;
conhecermo-nos, como diz Sócrates,
é conhecermo-nos no Outro quem nós somos.
A sombra serve ao Canteiro para o traço
da infinita recta, que se torna curva
e lhe dá a forma ideal que reúne
o recto e o curvo, o perto e o além.
No frontão do Pórtico inscreveu
na medida da sombra a esfera do Sol.
Cada dia temos as mínimas sombras
de tudo o que recolhe a mão,
e as nossas casas jazem diante de si mesmas
e vão rodando no seu eixo de sombra.
O cone escuro da nossa própria Terra
escurece a luz do luar branco.
Na geometria dos vultos planetários
por fim ficamos, na escurecida Terra,
predizendo o sentido do futuro.
(Fiama Hasse Pais Brandão, Cantos do Canto,
Relógio d'Água, Lisboa, 1995, p. 17-18)
abril 14, 2012
Um dia, num fórum, intervim a indicar
qual o livro mais divertido que li,
ao invés do mais deprimente
que o questionário
inquiria!
Reproduzo a resposta :):
«Qual o livro mais divertido que já leram? Augusto Abelaira :))))»
O livro mais deprimente????..........
Varreu-se-me da memória, se é que existiu!
Em questão alternativa, proponho:
o livro mais divertido que já leram :)
«Qual o livro mais divertido que já leram?»
Para mim, foi
Augusto Abelaira, O último animal que?,
Edições «O Jornal», Lisboa, 1985,
(situação de mercado: Esgotado)
Termina abruptamente
no capítulo 25, pp 335-336,
com cenas "inimagináveis"
[após ambos os amantes
terem morrido!] — :)).
Cenas como esta:
— Apalpa-me, mexe-me!
Angustiado, respondo:
— Como posso mexer-te? —
Omiti a palavra apalpar que me pareceu grosseira.
Mas como poderia afagá-la,
se tinha na minha frente um ser invisível,
que não oferecia resistência às minhas mãos
(as ideias visíveis não eram tocáveis)?
— Apalpa-me, mexe-me! — repetia, raivosa.
Este, o drama: ( )
E as minhas mãos perdiam-se no vazio,
sem pernas,
sem ventre,
sem braços para tocar.
( )
Situação angustiante.
Quando nos encontrávamos,
não colhíamos o amor completo,
só metade.
E ambos nos esforçávamos por guardar na memória
o outro lado da experiência para,
depois,
virando ao contrário a situação,
completar com ela o que nos faltava.
Mas a memória
— descobrimos —
é frágil,
tem pouca intensidade,
não resiste ao choque do mundo presente.
Um dia lembrei-lhe:
— E se engolíssemos uma grande quantidade de comprimidos?
Se as nossas almas se materializassem de tal modo que
pudessem sentir-se uma à outra como se fossem corpos?
A tentativa fracassou.
A Lucy enfrascou-se em comprimidos,
mas a alma transformou-se-lhe
num bloco de ferro e de fósforo,
deixou de pensar e de sentir.
Ficou tão pesada
que não conseguia distanciar-se ( ),
de tal modo a mineralização
tirava a agilidade ao corpo.
Quando, depois de uma cura de águas,
eliminou o excesso de mineralização,
propôs-me:
— Se eu iniciasse uma viagem com corpo até Lisboa?
— Milhares de quilómetros, selva, desertos, o mar...
— Em Lisboa confundia-me com os macacos de Campo de Ourique.
— Como entravas na cadeia?
— Limaria as grades, poderíamos fugir.
Nota do editor: aqui situa-se a explosão solar que não permitiu à antena Holmedel
registar o resto. Mas a preocupação de saber o resto não será um vício condenável?
Se resto houve.
Se resto há.
E termina assim! :))
Ri-me, neste livro, da primeira à última página.
Lol
qual o livro mais divertido que li,
ao invés do mais deprimente
que o questionário
inquiria!
Reproduzo a resposta :):
«Qual o livro mais divertido que já leram? Augusto Abelaira :))))»
O livro mais deprimente????..........
Varreu-se-me da memória, se é que existiu!
Em questão alternativa, proponho:
o livro mais divertido que já leram :)
«Qual o livro mais divertido que já leram?»
Para mim, foi
Augusto Abelaira, O último animal que?,
Edições «O Jornal», Lisboa, 1985,
(situação de mercado: Esgotado)
Termina abruptamente
no capítulo 25, pp 335-336,
com cenas "inimagináveis"
[após ambos os amantes
terem morrido!] — :)).
Cenas como esta:
— Apalpa-me, mexe-me!
Angustiado, respondo:
— Como posso mexer-te? —
Omiti a palavra apalpar que me pareceu grosseira.
Mas como poderia afagá-la,
se tinha na minha frente um ser invisível,
que não oferecia resistência às minhas mãos
(as ideias visíveis não eram tocáveis)?
— Apalpa-me, mexe-me! — repetia, raivosa.
Este, o drama: ( )
E as minhas mãos perdiam-se no vazio,
sem pernas,
sem ventre,
sem braços para tocar.
( )
Situação angustiante.
Quando nos encontrávamos,
não colhíamos o amor completo,
só metade.
E ambos nos esforçávamos por guardar na memória
o outro lado da experiência para,
depois,
virando ao contrário a situação,
completar com ela o que nos faltava.
Mas a memória
— descobrimos —
é frágil,
tem pouca intensidade,
não resiste ao choque do mundo presente.
Um dia lembrei-lhe:
— E se engolíssemos uma grande quantidade de comprimidos?
Se as nossas almas se materializassem de tal modo que
pudessem sentir-se uma à outra como se fossem corpos?
A tentativa fracassou.
A Lucy enfrascou-se em comprimidos,
mas a alma transformou-se-lhe
num bloco de ferro e de fósforo,
deixou de pensar e de sentir.
Ficou tão pesada
que não conseguia distanciar-se ( ),
de tal modo a mineralização
tirava a agilidade ao corpo.
Quando, depois de uma cura de águas,
eliminou o excesso de mineralização,
propôs-me:
— Se eu iniciasse uma viagem com corpo até Lisboa?
— Milhares de quilómetros, selva, desertos, o mar...
— Em Lisboa confundia-me com os macacos de Campo de Ourique.
— Como entravas na cadeia?
— Limaria as grades, poderíamos fugir.
Nota do editor: aqui situa-se a explosão solar que não permitiu à antena Holmedel
registar o resto. Mas a preocupação de saber o resto não será um vício condenável?
Se resto houve.
Se resto há.
E termina assim! :))
Ri-me, neste livro, da primeira à última página.
Lol
abril 09, 2012
«a economia parece ter tão pouco de ciência social e humana...»
_________________________________________________
A economia não é uma ciência inumana, mas é imperativa, tem leis logicas necessárias, embora violáveis com gravosas consequências.
Schumpeter passa em revista os maiores cultores da ciência económica apreciando as inovações teóricas aportadas pelos grandes mestres.
É verdade que a economia almeja comparar-se com a física teórica e tal é um modo correcto de firmar o saber. As leis da economia infringem-se ao preço de desastres inconvenientes que constrangem tanto como as leis estrictas da física.
Como em qualquer ramo do saber, a economia distingue a aparência da realidade ou essência de cada facto e não pode culpar-se a ciência de o curso da natureza ser o que decorre das leis que nela vigoram.
Por exemplo, a física diz que a lei da gravidade atrai os corpos para o centro da Terra. Ora, esta é uma lei que impera no planeta, e não é pelo facto de um objecto deposto numa mesa não cair para o centro da Terra que a lei deixa de agir!
Assim a economia. A colectiva produção de bens efectiva-se com a divisão do trabalho, é possível pela fecundidade da natureza, e alcança múltipla eficácia segundo o grau de civilização atingido pela inteligência e o engenho do homem.
A circulação e distribuição da riqueza opera-se pela troca de bens, a qual, em equilíbrio, é equitativa e adequada, pelo que cessa qualquer incentivo ou razão para alterar o respectivo estado de equilíbrio.
A crise financeira, iniciada no Ocidente em 2007-8, originou-se na prévia desregulação do sector bancário, o qual, enquanto prestador de crédito às empresas e às famílias, e como emissor de dinheiro (moeda de troca de bens), agiu incondicionado de limites que anteriormente restringiam a sua autonomia de decisão.
O consequente endividamento das firmas, famílias e estados, falaciosa e ilusoriamente confundido com desenvolvimento, — observe-se que é verdade uma sociedade poder desenvolver-se através da dívida, mas só se investir tais recursos na útil produção de bens e serviços necessários, e não no mero consumo ou em investimentos sem retorno —, levou à crise que grassa presentemente no Ocidente.
O chocante na nossa política de combate à crise não é a austeridade imposta à população, mas, no meu juízo, dois aspectos: a desigualdade na distribuição de sacrifícios e a retardada adopção de medidas adequadas à crise — notoriamente só o FMI e a UE têm estratégia séria, pois o governo não contribuiu ainda com qualquer medida que encaminhe o país para o crescimento viável.
E no entanto, tanto quanto me apercebo nos debates livres televisionados, há na opinião pública pessoas de saber comprovado insatisfeitas com a política do governo; exemplifico com os casos de João Salgueiro, Marinho e Pinto, Adriano Moreira de quem ouço críticas e sugestões pertinentes de política económica, justiça, defesa e relações exteriores. A meu ver, as suas opiniões deviam ser acatadas pelo governo
Por último, tenho a noção que esta crise na economia ocidental (EUA e UE) ou termina numa inflação descontrolada seguida de profunda depressão que arrastará as economias emergentes ou será vencida com o modo responsável de os bancos e os estados dirigirem a economia, a par da modificação de regras do comércio internacional que acabem com o oligopólio da OPEP na fixação dos preços do petróleo e com o dumping salarial da China e da Índia na concorrência desleal de preços dos bens exportados.
Schumpeter passa em revista os maiores cultores da ciência económica apreciando as inovações teóricas aportadas pelos grandes mestres.
É verdade que a economia almeja comparar-se com a física teórica e tal é um modo correcto de firmar o saber. As leis da economia infringem-se ao preço de desastres inconvenientes que constrangem tanto como as leis estrictas da física.
Como em qualquer ramo do saber, a economia distingue a aparência da realidade ou essência de cada facto e não pode culpar-se a ciência de o curso da natureza ser o que decorre das leis que nela vigoram.
Por exemplo, a física diz que a lei da gravidade atrai os corpos para o centro da Terra. Ora, esta é uma lei que impera no planeta, e não é pelo facto de um objecto deposto numa mesa não cair para o centro da Terra que a lei deixa de agir!
Assim a economia. A colectiva produção de bens efectiva-se com a divisão do trabalho, é possível pela fecundidade da natureza, e alcança múltipla eficácia segundo o grau de civilização atingido pela inteligência e o engenho do homem.
A circulação e distribuição da riqueza opera-se pela troca de bens, a qual, em equilíbrio, é equitativa e adequada, pelo que cessa qualquer incentivo ou razão para alterar o respectivo estado de equilíbrio.
A crise financeira, iniciada no Ocidente em 2007-8, originou-se na prévia desregulação do sector bancário, o qual, enquanto prestador de crédito às empresas e às famílias, e como emissor de dinheiro (moeda de troca de bens), agiu incondicionado de limites que anteriormente restringiam a sua autonomia de decisão.
O consequente endividamento das firmas, famílias e estados, falaciosa e ilusoriamente confundido com desenvolvimento, — observe-se que é verdade uma sociedade poder desenvolver-se através da dívida, mas só se investir tais recursos na útil produção de bens e serviços necessários, e não no mero consumo ou em investimentos sem retorno —, levou à crise que grassa presentemente no Ocidente.
O chocante na nossa política de combate à crise não é a austeridade imposta à população, mas, no meu juízo, dois aspectos: a desigualdade na distribuição de sacrifícios e a retardada adopção de medidas adequadas à crise — notoriamente só o FMI e a UE têm estratégia séria, pois o governo não contribuiu ainda com qualquer medida que encaminhe o país para o crescimento viável.
E no entanto, tanto quanto me apercebo nos debates livres televisionados, há na opinião pública pessoas de saber comprovado insatisfeitas com a política do governo; exemplifico com os casos de João Salgueiro, Marinho e Pinto, Adriano Moreira de quem ouço críticas e sugestões pertinentes de política económica, justiça, defesa e relações exteriores. A meu ver, as suas opiniões deviam ser acatadas pelo governo
Por último, tenho a noção que esta crise na economia ocidental (EUA e UE) ou termina numa inflação descontrolada seguida de profunda depressão que arrastará as economias emergentes ou será vencida com o modo responsável de os bancos e os estados dirigirem a economia, a par da modificação de regras do comércio internacional que acabem com o oligopólio da OPEP na fixação dos preços do petróleo e com o dumping salarial da China e da Índia na concorrência desleal de preços dos bens exportados.
abril 04, 2012
Uma obra clássica de Joseph Schumpeter,
História da Análise Económica, que
vale a pena revisitar para bem
apreciar como nascem
lentamente as
ideias
mais preciosas,
e como devemos estar gratos
aos pioneiros que as descobriram
e elaboraram, atribuindo
a cada investigador
o mérito que lhe
é próprio, e
mostrando a influência
de cada qual na melhoria
e progresso do conhecimento.
abril 03, 2012
Hedy Lamarr, Inventor of Radio Controlled Torpedo
Born in Austria as Hedwig Eva Maria Kiesler,
Hedy Lamarr was an A list actress in the 1930s and
40s, and was billed as the most beautiful woman in the world.
Born in Austria as Hedwig Eva Maria Kiesler,
Hedy Lamarr was an A list actress in the 1930s and
40s, and was billed as the most beautiful woman in the world.
She and a co-inventor also concieved of a way to control torpedoes by a constantly changing radio frequency so that it could not be jammed. The shortcoming of radio controlled torpedoes was that the control signal could be jammed on any particular frequency. Ms. Larmar and her partner thought of the way to get around a jamming signal, by having the controller and the receiver in the torpedo change frequency in unison and continually, so the signal could not be jammed. The controller and the receiver on the torpedo would change frequency at predetermined times, to predetermined frequencies so that a jamming signal could not follow the sequence. The exact configuration of coordinating the frequency changes that Lamarr came up with was not used, but the idea of frequency changing is used in many technologies today.
Origem do texto e da imagem: