Um dia, num fórum, intervim a indicar
qual o livro mais divertido que li,
ao invés do mais deprimente
que o questionário
inquiria!
Reproduzo a resposta :):
«Qual o livro mais divertido que já leram? Augusto Abelaira :))))»
O livro mais deprimente????..........
Varreu-se-me da memória, se é que existiu!
Em questão alternativa, proponho:
o livro mais divertido que já leram :)
«Qual o livro mais divertido que já leram?»
Para mim, foi
Augusto Abelaira, O último animal que?,
Edições «O Jornal», Lisboa, 1985,
(situação de mercado: Esgotado)
Termina abruptamente
no capítulo 25, pp 335-336,
com cenas "inimagináveis"
[após ambos os amantes
terem morrido!] — :)).
Cenas como esta:
— Apalpa-me, mexe-me!
Angustiado, respondo:
— Como posso mexer-te? —
Omiti a palavra apalpar que me pareceu grosseira.
Mas como poderia afagá-la,
se tinha na minha frente um ser invisível,
que não oferecia resistência às minhas mãos
(as ideias visíveis não eram tocáveis)?
— Apalpa-me, mexe-me! — repetia, raivosa.
Este, o drama: ( )
E as minhas mãos perdiam-se no vazio,
sem pernas,
sem ventre,
sem braços para tocar.
( )
Situação angustiante.
Quando nos encontrávamos,
não colhíamos o amor completo,
só metade.
E ambos nos esforçávamos por guardar na memória
o outro lado da experiência para,
depois,
virando ao contrário a situação,
completar com ela o que nos faltava.
Mas a memória
— descobrimos —
é frágil,
tem pouca intensidade,
não resiste ao choque do mundo presente.
Um dia lembrei-lhe:
— E se engolíssemos uma grande quantidade de comprimidos?
Se as nossas almas se materializassem de tal modo que
pudessem sentir-se uma à outra como se fossem corpos?
A tentativa fracassou.
A Lucy enfrascou-se em comprimidos,
mas a alma transformou-se-lhe
num bloco de ferro e de fósforo,
deixou de pensar e de sentir.
Ficou tão pesada
que não conseguia distanciar-se ( ),
de tal modo a mineralização
tirava a agilidade ao corpo.
Quando, depois de uma cura de águas,
eliminou o excesso de mineralização,
propôs-me:
— Se eu iniciasse uma viagem com corpo até Lisboa?
— Milhares de quilómetros, selva, desertos, o mar...
— Em Lisboa confundia-me com os macacos de Campo de Ourique.
— Como entravas na cadeia?
— Limaria as grades, poderíamos fugir.
Nota do editor: aqui situa-se a explosão solar que não permitiu à antena Holmedel
registar o resto. Mas a preocupação de saber o resto não será um vício condenável?
Se resto houve.
Se resto há.
E termina assim! :))
Ri-me, neste livro, da primeira à última página.
Lol
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