abril 14, 2012

Um dia, num fórum, intervim a indicar
qual o livro mais divertido que li,
ao invés do mais deprimente
que o questionário
inquiria!

Reproduzo a resposta :):

«Qual o livro mais divertido que já leram? Augusto Abelaira :))))»

O livro mais deprimente????..........
Varreu-se-me da memória, se é que existiu!

Em questão alternativa, proponho:
o livro mais divertido que já leram :)

«Qual o livro mais divertido que já leram?»


Para mim, foi


Augusto Abelaira, O último animal que?,
Edições «O Jornal», Lisboa, 1985,
(situação de mercado: Esgotado)



Termina abruptamente
no capítulo 25, pp 335-336,
com cenas "inimagináveis"
[após ambos os amantes
terem morrido!
] — :)).
Cenas como esta:

Apalpa-me, mexe-me!
Angustiado, respondo:
Como posso mexer-te?

Omiti a palavra apalpar que me pareceu grosseira.
Mas como poderia afagá-la,
se tinha na minha frente um ser invisível,
que não oferecia resistência às minhas mãos
(as ideias visíveis não eram tocáveis)?

Apalpa-me, mexe-me! — repetia, raivosa.

Este, o drama: ( )
E as minhas mãos perdiam-se no vazio,
sem pernas,
sem ventre,
sem braços para tocar.
( )
Situação angustiante.
Quando nos encontrávamos,
não colhíamos o amor completo,
só metade.

E ambos nos esforçávamos por guardar na memória
o outro lado da experiência para,
depois,
virando ao contrário a situação,
completar com ela o que nos faltava.

Mas a memória
— descobrimos —
é frágil,
tem pouca intensidade,
não resiste ao choque do mundo presente.



Um dia lembrei-lhe:
E se engolíssemos uma grande quantidade de comprimidos?
Se as nossas almas se materializassem de tal modo que
pudessem sentir-se uma à outra como se fossem corpos?


A tentativa fracassou.
A Lucy enfrascou-se em comprimidos,
mas a alma transformou-se-lhe
num bloco de ferro e de fósforo,
deixou de pensar e de sentir.
Ficou tão pesada
que não conseguia distanciar-se ( ),
de tal modo a mineralização
tirava a agilidade ao corpo.



Quando, depois de uma cura de águas,
eliminou o excesso de mineralização,
propôs-me:
— Se eu iniciasse uma viagem com corpo até Lisboa?
— Milhares de quilómetros, selva, desertos, o mar...
— Em Lisboa confundia-me com os macacos de Campo de Ourique.
— Como entravas na cadeia?
— Limaria as grades, poderíamos fugir.

Nota do editor: aqui situa-se a explosão solar que não permitiu à antena Holmedel
registar o resto. Mas a preocupação de saber o resto não será um vício condenável?
Se resto houve.
Se resto há.

E termina assim! :))

Ri-me, neste livro, da primeira à última página.

Lol

2 comentários:

alf disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
vbm disse...
Este comentário foi removido pelo autor.