setembro 10, 2011
«Torna-se também difícil explicar o que se passava
no espírito de Dom Raymundo. Parece haver a certeza
de que Dom Raymundo era um destes seres que se
deixa amar sem perguntar porquê. Irresponsável
e poeta, com uma barbicha e um encanto de deitar
abaixo as piores intenções, deixava-se amar com um
ar olímpico de quem à superfície da terra é um Deus
e, como tal, não pode medir as consequências
benéficas ou maléficas dos seus actos. Vivia num
laissez faire que amedrontava os homens como
Frey Cyro, procuradores honestos de uma verdade
nas coisas e nos indivíduos. Não era o enfant terrible
da Barbela, sim um homem terrível, que deixava ao
deus-dará as consequências dos amores com que
queimava vidas alheias. E nisto constituía-se muito
latino e muito português. Generoso no amor, cruel
na desgraça. A memória que varresse o passado;
mesmo a saudade ficava apenas dos bons momentos,
que dos maus não se lembrava.»
op.cit., pp.180-81
4 comentários:
Personagem instigante...
Um livro mágico de Ruben A. :)
Dom Raymundo simboliza o espírito guerreiro, e lírico, da velha nobreza galaico-duriense, a que tomou em mãos a independência do condado de Portuscalle, depois Reyno de Portugal. :)
Aumentou ainda mais minha curiosidade. Adoro seus posts! Já adquiri um exemplar de Carmina Burana...
:))
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