setembro 13, 2011
«Ao fim da tarde, antes do crepúsculo cantar as suas loas e
sem se descortinar a realidade, apoderava-se da Barbela
um sentido incógnito da existência.
Forte como as nacionalidades e rija como a têmpera da
lâmina do Xasco, o maior escanhoador da Ribeira Lima,
a Torre preparava-se para o banho noctívago
na sua vida de séculos.
Existissem ou não estrelas, fosse breu ou
luar a jorros pelos campos marginais,
o mundo abria-se então
dividindo o tempo. [ ]
Quando a linha do horizonte baixava em intensidade e
os fumos azulados batiam a favor do vento e do andar das coisas,
naquela dimensão abrupta que testemunhava o acender das constelações,
os Barbelas realizavam-se vindos do sonho e da fantasia
para os reais domínios da Torre.
De noite, ressuscitavam e, de companhia, traziam
os amores e os ódios de outras eras e
de outras sensibilidades [ ].
Aquele ressuscitar transfigurava a Torre.»
Ruben A., A Torre da Barbela (1964),
Assírio & Alvim, Lisboa, 1995, pp.17;18.
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