setembro 14, 2011
Dali à Moutosa ainda se contavam duas léguas bem andadas.
Iam a meio caminho, no subir da encosta que se debruçava
vagarosamente sobre o Lima. A neblina rala espalhava-se
aos balões pelas cabeças mais salientes. Aquela procissão
de burras e mulas parecia uma bicha tum-tum-tum entrando
por um buraco da natureza e aparecendo do lado oposto. A
conversa obcecava os primos da Barbela sabido que todos
conheciam de cor e salteado o córrego da Moutosa.
Só Madeleine não estava iniciada naquela visão;
era a mais atenta no vislumbrar da paisagem.
Como aquilo, nunca vira nada.
Um outro mundo.
O que se começava a ver não tinha sido feito pelo homem;
sentia-se a própria Criação à solta, liberta de peias
domésticas e preconcebidas. Se a Beleza tivesse
refúgio secreto para os Deuses da Flora,
seria ali o reino desse sonho desmedido.
Madeleine extasiava-se, dela se apoderava
uma inclusão diáfana que trespassava a panorâmica.»
:)
Ruben A., A Torre da Barbela (1964),
Assírio & Alvim, Lisboa, 1995, pp.121-2.
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