«[ ] como nessa alegoria de Antoine Wiertz em que a mulher nua, com uma flor a prender o cabelo, e o sexo escondido por uma túnica que lhe desce do braço para as coxas, enfrenta um esqueleto, olhando fixamente a caveira que, num esgar sorridente, prende toda a atenção de Rosina cujo rosto, de perfil, me evoca a explicadora de francês.»
Antoine Wiertz, Deux jeunes filles—La Belle Rosine (1847)
«[ ] se, no quadro de Antoine Wiertz, eu me preocupasse apenas em saber quem era Rosina, e por que razão ela se encontrava, seminua, em frente de um esqueleto, desceria ao anedótico em que o universal se perde. Assim, na perspectiva da Arte, o que importa é esse jogo de espelhos em que a mulher de corpo perfeito tem, subitamente, uma imagem do seu destino mortal; e cada um de nós poderá pensar na efemeridade da beleza, e na fugacidade daquilo que consideramos perfeito.»
Nuno Júdice, O Anjo da Tempestade,
Publicações Dom Quixote, Lisboa, 2009;
pp. 88-89; 91-92; 122.
2 comentários:
Olá!
Sinto-me exatamente assim... Não em relação à morte.
Ocultando desejos, me percebendo completamente desmontável. A caveira é o ícone da fragilidade que expomos necessariamente todos os dias, e é ela mesma que ironiza a nossa insistência em mantermos nossa vã aparência.
Amei seu blog!
Abraços
Uma observação bem impressiva!
Obrigado, Débora, pela tua visita.
Nuno Júdice é um fino poeta, cá,
do "rectângulo" [Portugal :)].
Podes ver um ou outro seu poema
neste blog, sempre de subtil ironia.
Abraço,
Vasco
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