setembro 22, 2009

"Matéria e Memória" ou
"Alta Velocidade à Meia- Noite"



CANAIS FERROVIÁRIOS

O reflexo aqui é o ponto estável
num mundo percorrido; a imagem
exausta na lívida ou na escura noite
em que no teu rosto havia a densidade
dos vapores que eram o opaco. Regresso
a esse ciclo, ao vidro; são duas noites vivas e cindidas,
laterais. A, do lado, de águas que eram espaço
negro, e negras, a esfera absoluta. Imaginar?
Do outro lado, de uma ou de outra noite, o rebordo
das luzes, entre clarões. Seria
essa recta ou o infindável? Vou neste afastamento
agora entre o metálico, a porcelana, o vidro.

Nesta soturna câmara são punidos
presença, luzes, fogos nus. De fora dos meus olhos
ou no interior do mundo que Hegel me dissera ser dos olhos,
sendo por sua vez os olhos o precipício
para a alma, e alma exactamente só no mundo e não algures.

Só tu depois do espaço e do início,
na escrita deixaste-me o teu rosto, porém cercado de ferragens
e mais móvel do que o meu. Que vidro te cobria
que sem moveres o corpo, este e o rosto diminuíram
lentamente entre hastes e os cais ferroviários.
Não te perdi, só a distância assim aumenta entre dois corpos
e o tempo da memória oculta imagens.

Neste labor nocturno em que vejo
sobre campos de cereais o opalino
e contra o foco forte incandescente, a corrupção das vinhas,
noite absoluta. Tão coesa que confunde mesmo a da memória,
noite do rio, noite, o não saber.
A meio deste sítio transformável
em zonas de sentido e zonas nulas,
em faixas metalúrgicas e dúvidas, nestas imagens mistas,
pois novamente a água oscila no jarro biselado.

Só depois do extenso e tempo, o discurso inverte
estas propostas: uma cancela branca,
o quer que se ilumine nessa dispersa esfera (ainda) dos campos.
Na retina, imagem pronta
para o próximo ponto de fusão, para que não se perca nunca
sendo imagem, a tua boca chegada a um lugar distante
é a mais confusa boca e permanente.


fiama hasse pais brandão

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