setembro 22, 2009



«À medida que o meu horizonte se alarga,
as imagens que me cercam parecem desenhar-se
sobre um fundo mais uniforme e tornarem-se
indiferentes para mim.

Quanto mais contraio esse horizonte,
tanto mais os objectos que ele circunscreve
se escalonam distintamente de acordo com
a maior ou menor facilidade do meu corpo
para tocá-los e movê-los.

Eles devolvem, portanto, ao meu corpo,
como faria um espelho, a sua influência eventual;
ordenam-se conforme os poderes crescentes
ou decrescentes do meu corpo.

Os objectos que cercam o meu corpo
reflectem a acção possível do meu corpo sobre eles



[Assim sendo], o que [isto] significa [é] que
a minha percepção [do mundo] traça precisamente
no conjunto das imagens, à maneira de uma sombra
ou de um reflexo, as acções virtuais ou possíveis
do meu corpo [ ].

Donde, provisoriamente, estas duas definições:
Chamo de matéria o conjunto das imagens,
e de percepção da matéria, essas mesmas
imagens relacionadas à acção possível
de uma certa imagem determinada,
o meu corpo.

Henri Bergson, Matéria e Memória,
Livraria Martins Fontes, S. Paulo, 1990, p. 12-13.

4 comentários:

Ana Paula Sena disse...

O Henri Bergson é um autor que tardiamente me interessou. Mas, actualmente, parece-me importantíssimo.

Excelente... que o tenhas trazido para aqui :)

P.S. - Infelizmente, ando sem tempo para ler. :((( Só aos bocadinhos. É bom acompanhar o que colocas aqui no teu espaço. ...como que um "refresh"...

vbm disse...

:))

Sabes? Via de regra, estes excertos são leituras pretéritas, mas Bergson é leitura de agora, em curso.

Estou deveras guiado pelo raciocínio de Bergson que está a mostrar como no cérebro se entrelaça o «espírito» e a «matéria», a «ciência» e a «consciência», tudo muito antes de Damâsio, em modo de filosofia, aberta ao que a neurociência vá
descobrindo, sem perder o pé de uma explicação lógico-analítica do processo de existir, viver, pensar.


(Também tenho em vista ler depois de Bergson - leitura pausada, página a página, "traduzindo" do brasileiro para o português sintáctico :) -, talvez Husserl, - possivelmente uma oportuna sequência... -, e, a seguir, um livro editado pela Sílabo sobre a
Neuroeconomia, um ensaio culto de José Eduardo de Carvalho sobre a sociobiologia do comportamento :)

candida disse...

xtou xonxa com tanta xabedoria!

:)

vbm disse...

.

lolinho

:)