janeiro 11, 2015


VIVENDA

Na tarde, o calceteiro bate no granito.
Na noite, o mocho pia no silêncio.
E, além destes ruídos, a água
escoa do cano velho da bica.
Nos meus ouvidos, a minha vida
reparte-se entre outrora e isto.
Entre um ruído e outro, no centro
dos sons revivo. Mas não terei
de conhecer o que uma vez vivi
nem o que abandono. Sou livre
para a traição e o esquecimento
quando aqui estou.

Fiama Hasse Pais Brandão, Obra Breve,
Assírio & Alvim, Lisboa, 2006, p.625-26.





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