dezembro 26, 2013

 
 



















«Júlio sentiu-se humilhado ao reconhecer a prodigiosa inteligência graças à qual o porteiro tomara o seu partido e a habilidade com que achava os meios de o servir. O empenho dos inferiores a sua particular habilidade para comprometer os patrões que se comprometem, já ele os conhecia, o perigo em tê-los como cúmplices no que quer que fosse, já o apreciara; mas não tinha pensado na sua dignidade pessoal senão no momento em que se sentiu tão subitamente aviltado. Que triunfo para o escravo incapaz de se elevar até ao amo é fazer o amo descer até junto dele! Júlio mostrou-se brusco e duro. Mais um erro seu. Mas ele sofria tanto! A sua vida, até aí recta, tão dura, tornava-se tortuosa; e agora via-se obrigado a usar de astúcia, a mentir.»

 

Honoré de Balzac, “Ferragus, Chefe dos Devorantes” (1833)

trad. Paula Reis, in A Comédia Humana, VII Volume

– “Cenas da Vida de Província”, Porto, Livraria

Civilização Editora, 1980, p. 311-12  

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