agosto 21, 2013

Herbert A. Simon

«O computador é um membro de uma importante família de artefactos chamados sistemas simbólicos, ou mais explicitamente, sistemas simbólicos físicos. Outro membro importante desta família [ ] é o cérebro e a mente humana. [ ]

Os sistemas simbólicos são quase a quintessência dos artefactos, porque a adaptabilidade a um ambiente é toda a sua razão de ser. São sistemas de processamento de informação que procuram realizar objectivos, e habitualmente são postos ao serviço dos sistemas mais vastos em que estão incorporados.

Um sistema simbólico físico contém um conjunto de entidades, chamadas símbolos. Estes são padrões físicos (por exemplo, marcas de giz num quadro) que podem ocorrer como componentes de estruturas simbólicas (por vezes chamadas expressões).

[ ] Um sistema simbólico possui também um certo número de processos simples, que fazem operações sobre as estruturas simbólicas — processos que criam, modificam, copiam e destroem símbolos. Um sistema físico simbólico é uma máquina que, na sua trajectória ao longo do tempo, produz um conjunto evolutivo de estruturas simbólicas.

Estas estruturas podem servir, e servem habitualmente, como representações internas (por exemplo, «imagens mentais») dos ambientes a que o sistema simbólico procura adaptar-se, e permitem-lhe fazer modelos mais ou menos verídicos desse ambiente, em maior ou menor detalhe, e consequentemente raciocinar acerca dele.

É claro que para que estas capacidades tenham alguma utilidade para o sistema simbólico, este deve possuir janelas abertas para o mundo e também mãos: deve ter meios de adquirir no mundo exterior informação codificável em símbolos que iniciam a acção sobre o ambiente. Assim, deve usar símbolos para designar objectos, relações e acções no mundo exterior.

Os símbolos podem também designar processos que o sistema simbólico pode interpretar e executar. Portanto, os programas que governam o comportamento de um sistema simbólico podem ser armazenados, juntamente com outras estruturas simbóicas, na própria memória do sistema, e executados quando activados.

Chamamos aos sistemas simbólicos «físicos» para lembrar ao leitor que existem, no mundo real, como dispositivos feitos de vidro e metal (computadores) ou de carne e sangue (cérebros).

Antigamente, tínham-nos acostumado a pensar nos sistemas simbólicos da matemática como abstractos e incorpóreos, não tomando em conta o papel e lápis e as mentes humanas que na verdade são necessários para lhes dar vida.

Os computadores trouxeram os sistemas simbólicos do céu platónico das ideias para o mundo empírico dos processos reais executados por máquinas ou cérebros, ou por uns e outros trabalhando em conjunto.»

Herbert A. Simon, As Ciências do Artificial,
(«The Sciences of the Artificial», 1969),
Trad. Luís Moniz Pereira, Arménio Amado Ed.,
Colecção Studium, nº 95, Coimbra, 1981, pp. 54-56.

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