junho 09, 2013

Bergson


«Digamos apenas [ ] que as antigas desigualdades de classe, primitivamente impostas sem dúvida pela força, admitidas depois como desigualdades de valor e de serviços prestados, se vêem cada vez mais submetidas à crítica da classe inferior: os dirigentes valem de resto cada vez menos, porque, demasiado seguros de si, afrouxam a tensão interior à qual tinham ido buscar uma maior força de inteligência e de vontade e que havia consolidado a sua dominação.

Conservar-se-iam, contudo, se continuassem unidos; mas, devido precisamente à tendência que os leva a afirmarem a sua individualidade, aparecerão, mais tarde ou mais cedo, entre eles ambiciosos que pretenderão ser os senhores e que buscarão apoio na classe inferior, sobretudo se esta já tiver conseguido certa participação nos asuntos: acabou-se, então, a superioridade nativa daquele que pertence à classe superior; quebrou-se o encanto.

É assim que as aristocracias tendem a perder-se na democracia, simpelsmente porque a desigualdade política é coisa instável, como o será de resto a igualdade políticas uma vez realizada, se não passar de um facto, se admitir por conseguinte excepções, se por exemplo tolerar a escravatura no interior da cidade.»

Henri Bergson, As duas fontes da moral e da religião,
(«Les deux sources de la morale et de la religion», 1939),
Trad. Miguel Serras Pereira, Lisboa, Almedina, 2005 p.73.

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