abril 11, 2013


A base filosófica sobre a qual se desenvolveram as teorias da linguagem na Idade Média foi a importante questão dos universais: — Têm todos os universais exemplos ou haverá universais não exemplificados? que foi a célebre discussão entre realistas  e nominalistas.

Os realistas, de que Duns Scot (1266-1308) foi o principal representante, defendiam a tese de ser real o ser infinito, de que as coisas são mera exteriorização ou cópia. Quanto à linguagem, para Scot, as palavras estavam numa relação intrínseca com as ideias ou conceitos, que passam a existir logo que há  palavras que as designem.

Os nominalistas, representados principalmente por Guilherme Occam (1300-1350, aprox.), defendiam a existência real de coisas particulares, cujo universal — ideia ou conceito — apenas existia na alma dos sujeitos cognoscentes. No plano da linguagem, não consideravam  equivalente a ideia e a palavra. Por exemplo, na frase «O homem corre», não é a palavra homem que corre, nem a ideia de espécie humana, mas a pessoa concreta individual que está a correr. Occam constrói, assim, a sua doutrina do discurso em função das palavras ou termos utilizados no discurso, donde o nome da sua doutrina: nominalismo ou terminalismo.

Já no fim da Idade Média, a defesa das línguas nacionais requer a elaboração de gramáticas apropriadas às especificidades de cada uma. A língua vulgar de cada país, como língua falada, é valorizada não apenas contra o latim, mas por revelar um fundo primitivo, lógico e natural, de algum modo universal. Para comunicar as suas concepções aos seus semelhantes, o homem forja signos de natureza racional e sensível; racional, por o falante o criar na razão dialogante com o seu semelhante; sensível, por a comunicação humana se efectuar somente por intermédio dos sentidos. Assim, o signo, a matéria da linguagem vulgar, é sensível pela sua natureza como som, e racional pela sua significação cognitiva como ideia.
 
Julia Kristeva, História da Linguagem,
(«Le langage, cet inconnu», 1969),
Trad. Mª Margarida Barahona,
Lisboa, Edições 70, pp. 165-7

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