março 10, 2013


«Quando Febo começa a espalhar pelo pólo
a luz com as róseas quadrigas,
empalidece a estrela, ofuscado o seu rosto luminoso
pelas chamas opressoras.
Quando o bosque com as rosas primaveris enrubesce,
com o sopro do tépido Zéfiro,
basta que sopre desvairadamente o Austro nebuloso
e a beleza das suas pétalas apartar-se-á dos espinhos.
Muitas vezes resplandece o mar, com o bom tempo,
com as ondas imóveis;
muitas vezes o Aquilão desencadeia
tempestuosas procelas,
subvertendo a lisa superfície das águas.
Se é rara a forma que perdura no mundo,
se varia com tantas alterações,
fia-te agora nas efémeras fortunas dos homens,
fia-te nos fugazes bens!
É coisa conhecida e está estabelecido por uma lei eterna
que nada do que foi criado seja firme.»

Boécio, Consolação da Filosofia («De consolatione Philosophiae»),
Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2011, Livro 2, Metro 3, p.54

Sem comentários: