março 18, 2013


«Com quão grande variedade de formas
os animais percorrem as terras!
De facto, uns têm um corpo alongado e arrastam-se no pó,
marcando no solo um sulco contínuo
ao arrastarem-se esforçadamente,
outros têm a leveza errante das asas,
para fustigarem os ares
e atravessarem em voo os espaços do amplo céu;
outros ainda, deslocando-se a andar,
alegram-se ao imprimirem no solo
a marca dos seus passos,
seja para atravessarem verdes planícies
seja para se embrenharem nos bosques.
O facto de todos estes animais,
embora os vejas diferentes entre si
pela variedade das formas,
terem a face voltada para baixo
basta para lhes tornar embotados e pesados os sentidos.
So a raça dos homens ergue mais alto a excelsa cabeça,
e, leve, ergue-se com o corpo direito
e olha de cima para as terras.
o que esta postura ensina, a não ser que,
como ser terreno, não percebas mesmo nada, é o seguinte:
Tu, que procuras o céu com o rosto levantado,
e ergues a fronte,
ergue também o teu espírito para o alto,
para que a mente, pesada,
não tenda para baixo, sendo inferior ao corpo
que se ergur com maior leveza para as alturas.»

Boécio, Consolação da Filosofia («De consolatione Philosophiae»),
Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2011, Livro 5, Metro 5, p.189-90.

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