fevereiro 02, 2013


«Cláudio [-10 a.C.; 54 d.C.] nasceu em Lugduno [Lion, França] [ ], nas calendas de Agosto [ ] e foi chamado Tibério Cláudio Druso. [ ] Durante quase toda a sua infância e adolescência teve de lutar contra teimosas enfermidades [ ] que tanto lhe enfraqueceram o espírito e o corpo.

No entanto, desde a juventude se consagrou ao estudo das letras gregas e latinas com zelo apreciável, e ocasiões houve em que se exprimiu em público nas duas línguas. Apesar destas provas de saber, não conseguiu, todavia, alcançar considerações nem suscitar melhores esperanças. (p.265)

Sua mãe Antónia a cada passo dizia que ele era um monstro, que não fora acabado, mas apenas esboçado pela natureza; [ ] Sua avó Augusta tratou-o sempre com o maior desdém, só lhe dirigia a palavra em raras ocasiões e quando tinha algo que dizer-lhe fazia-o através de uma carta lacónica e dura ou por interposta pessoa. [ ] (p.265-66)

Depois de assim passar a maior parte da sua vida, Cláudio foi imperador aos cinquenta anos, graças a um acaso extraordinário. Repelido pelos assassinos de Calígula, no momento em que estes afastavam a turba, como se o imperador quisesse estar só, Cláudio refugiara-se num pavilhão conhecido com Hermeum, e, pouco depois, transido de pânico, ao ouvir falar no assassínio, à socapa esgueirou-se até uma galeria próxima e ali se escondeu, embrulhando-se no reposteiro que colgava da porta. (p.270-71)
Estando assim escondido, um soldado, que andava de um lado para outro, viu-lhe os pés, quis saber de quem se tratava, reconheceu-o, fê-lo sair dali e como Cláudio, assustado, se lhe lançava aos pés, saudou-o chamando-lhe imperador. Depois conduziu-o até junto dos seus companheiros [ ] que o colocaram numa liteira [ ], pegaram nela aos ombros e levaram-na até ao acampamento. [ ](p.271)

Mas na manhã seguinte, o Senado [ ] vendo que o povo pedia em altos gritos um chefe único, apontando para ele, deixou que os soldados armados prestassem juramento a Cláudio, o qual prometeu a cada um destes quinze mil sestércios. Eis como ele foi o primeiro dos Césares a comprar a peso de ouro a fidelidade das legiões.

Já estabelecido no poder, [ ] outorgou uma amnistia geral e completa, que observou religiosamente. Apenas mandou executar um pequeno número de tribunos e centuriões que havia tomado parte na conjura contra Caio [Calígula], tanto a título de exemplo como por saber que eles tinham exigido também a sua morte. (p.272-74)

Sóbrio na escolha de honras e no exercício do poder, absteve-se de usar o título de Imperador e recusou aceitar todas as distinções excessivas. [ ] Exerceu quatro consulados [ ]. Nem sempre seguia as leis à letra, tornando-as mais suaves ou mais severas, segundo a justiça do caso ou segundo os seus impulsos. (p.276-78-79-80)

(continua)
Suetónio, Os Doze Césares,
trad. e notas João Gaspar Simões
Lisboa, Biblioteca editores Independentes, 2007

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