No decurso de leituras avulsas dos filósofos sempre vi menorizada a filosofia de Aristóteles e da escolástica medieval.
Realmente, no liceu, a breve incursão pela Antiguidade Grega e pela silogística das proposições, logo era destituída pela subsequente exposição da doutrina dos racionalistas de seiscentos.
Descartes empalidecia o saber antigo com a sua magistral conclusão da existência do facto indubitável de haver pensamento — no que hoje se me afigura mais conforme à filosofia clássica do que o imaginava no liceu.
Pois, na verdade, era impossível a um jovem não ficar impressionado com a algebrização do espaço na deslumbrante geometria analítica de Descartes, e com a radicalidade da exigência do seu método de ordenar as ideias claras e simples, na condução do pensamento, independente do que os livros antigos ensinassem ou não, partindo do evidente até alcançar a certeza do conhecimento.
Sucedeu-me, contudo, uma surpresa serôdia quando há um ano vi nos escaparates da Bulhosa de Oeiras um livrinho com o preço de € 3.00, editado pela Guimarães Editores intitulado “Exaltação da Filosofia Derrotada” (1983) de autoria de Orlando Vitorino. Fiquei com curiosidade, comprei-o, trouxe-o para casa.
Ao lê-lo, tomei conhecimento, ao fim de tantos anos de leituras dispersas de filósofos, de uma argumentação séria e convincente em favor da tal filosofia derrotada, a clássica, de Aristóteles, invertida e desfigurada pela filosofia crítica de Kant, inábil suporte das diversas ciências modernas de autónomos “sectores” da realidade!
Hei-de tentar expor o que aprendi e apreciei nesta aprendizagem original de Aristóteles que sempre vi considerado quase ‘desactualizado’. Há argumentos em contrário. E mesmo no domínio da ciência económica, que me surpreenderam muito.
Como é possível Orlando Vitorino não ser comentado? Os excertos de Álvaro Ribeiro, em torno do “Estudos Gerais” do Trivium e do Quadrivium, achei-os deliciosos e situaram-me melhor no que foi o pensamento dos filósofos siscentistas. Voltarei ao tema.
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