(continuação)
«Esta novidade ainda não o saciara. Até a leitura do jornal, que costumava ser o alimento essencial da sua boa disposição, — graças a um universo fértil em demências de toda a espécie — vinha agora em segundo lugar, depois de ele ficar ali espraiando a vista até ao horizonte.
Daquele sexto andar, como um explorador no cimo de uma montanha, Karim dominava a cidade e os seus múltipos antros — onde agitava, com os olhos postos na prosperidade, a multidão dos imbecis e dos filhos da puta.
Esta vista geral de uma sociedade entregue à mais sangrenta ladroeira transmitia-lhe um prazer sem limites. Cada vez mais, considerava a sua nova residência um observatório onde as suas faculdades humorísticas podiam medrar com toda a liberdade.»
(fim da transcrição)
Albert Cossery, A violência e o escárnio,
(«La violence et la dérision», 1964),
trad. Júlio Henriques, Antígona,
Lisboa, 1999, pp. 17-18
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